sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Blindado pela situação e afagado pela oposição, Bezerra deita e rola no Congresso.

                                 

     Dirceu Ayres

Blindado pela base governista, o ministro Fernando Bezerra (Integração Nacional) disse ontem em depoimento no Congresso que as acusações de nepotismo e favorecimento a Pernambuco na distribuição de recursos federais têm como objetivo desgastar seu partido, o PSB. Comandada pelo governador Eduardo Campos (PE), a legenda tem tido atritos com o PT e flerta com o PSDB, conforme mostrou a Folha ontem. Diante da crise, Campos tem dito a aliados que está certo da participação do PT no bombardeio ao afilhado. Para Bezerra, ele virou alvo de ataques por quem pretende desqualificar o PSB. "O que se quer nessa campanha é atacar não só minha imagem, mas a do meu partido, que preserva valores de impessoalidade, moralidade, conduta ética", afirmou. Com a relação entre os partidos em teste, senadores e deputados governistas fizeram questão de comparecer ao depoimento em pleno recesso para defender e elogiar a gestão de Bezerra, seguindo orientação do Planalto. No depoimento de cinco horas, Bezerra não passou por constrangimentos, já que os oposicionistas tentaram responsabilizar a presidente Dilma pelos problemas das chuvas no Sudeste. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), afirmou que Bezerra está sendo "vítima pelo fato de ser nordestino". Para o petista, se as indicações de privilégio envolvessem São Paulo, não criariam polêmica. Bezerra voltou a dividir com o governo a responsabilidade pela distribuição de verba contra enchentes. O ministro admitiu que seu reduto, Pernambuco, recebeu 90% (R$ 98 milhões) da verba paga pela pasta, mas disse que isso representava 45% dos recursos empenhados (promessa de pagamento). Ao justificar o repasse, afirmou ter seguido critérios técnicos e reclamou da omissão de Estados e municípios. "Nenhum Estado e nenhum município apresentou mapeamento de áreas de risco. Defesa Civil é uma responsabilidade compartilhada." Outro argumento de Bezerra foi a falta de um corpo técnico para avaliar projetos. O ministro disse que 3.000 projetos de precaução de desastres foram analisados por apenas 18 técnicos. Segundo dados do ministério, o sistema de prevenção de enchentes teve em 2011. R$ 2,2 bilhões empenhados, sendo que 56% foi para o Sudeste, 24% para Nordeste, 11% para Sul, 5% para o Norte e 4% para Centro-Oeste. A oposição questionou os números e tentou mostrar que só cerca de R$ 600 milhões foram pagos em 2011. O ministro disse que, para evitar distorções, todos os recursos aplicados para prevenção devem ser computados em um único programa. Sobre reportagem da Folha que mostrou que o filho do ministro, Fernando Coelho (PSB-PE), foi o deputado que teve o maior volume de recursos de emendas liberados em 2011 pela pasta do pai, Bezerra negou privilégios e mostrou números de emendas lideradas pelo PMDB. O ministro negou ainda as denúncias de nepotismo no ministério e na Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), que teve seu irmão, Clementino Coelho na presidência interinamente por quase um ano. Anteontem ele havia deixado a interinidade da presidência, mas continuava como diretor da estatal. Ontem, o "Diário Oficial da União" publicou a exoneração dele, a pedido. O ministro reconheceu que o governo pediu a saída de Clementino. Segundo ele, não havia nepotismo, pois Clementino ocupou a presidência devido ao estatuto que determina que, em caso de vacância, o diretor mais antigo assuma. A Folha revelou também que Bezerra empregou o pai e o tio de sua nora no ministério. Ele disse que a indicação do pai partiu de um petista, e que o tio está na pasta faz tempo. (Da Folha de São Paulo) Vai ou racha. Desde o início das denúncias contra o ministro Fernando Bezerra, o PSB adotou a estratégia do vai ou racha. Eduardo Campos, presidente da legenda e governador do Pernambuco, envolveu a presidente da República diretamente na liberação de todas as verbas para Pernambuco, co-responsabilizando o Palácio do Planalto. Exigiu total solidariedade de Dilma Rousseff. Teve. Em relação aos demais partidos, deixou bem claro que também queria apoio incondicional. Teve. Pelo seu tempo de TV e pela sua bancada, todo mundo quer aliança com o PSB que, por sua vez, também quer aliança com todos. Por isso, ontem, Bezerra usou a chantagem política de forma magistral no Congresso, recebendo, em troca, a blindagem descarada da situação e oposição. Pela primeira vez, um partido da base peita Dilma Rousseff e sai vencedor. A estratégia do vai ou racha foi exitosa. A porteira está aberta, sem tranca. Lula já tinha dito algo a respeito de ter o pelo duro ou algo que o valha. Em vez de apanhar, o PSB bateu e levou. Infelizmente para a política brasileira que, cada vez mais, transforma partidos políticos naquelas massas de moldar, misturando todas as cores numa pasta só.

Um senador petista e a verdade como categoria inútil

                                      
   Dirceu Ayres

Humberto Costa (PE), líder do PT no Senado, decidiu contar um fato mentiroso no Congresso, ainda que, claro!, ele seja um homem que não mente jamais. E, ora vejam!, aproveitou para secretar seu ódio contra São Paulo, prática muito corriqueira hoje em dia. Tenho a certeza de que São Paulo é o estado com o segundo maior número de pernambucanos do país, como é, se não me engano, o segundo com o maior número de nordestinos, só perdendo para a Bahia. Mesmo assim, tudo indica, este valente acredita que eventuais verbas federais enviadas ao estado só beneficiam… paulistas! São Paulo, se não me engano, é a terra onde um ilustre conterrâneo de Costa, um certo Luiz Inácio Lula da Silva, fez carreira política, elegendo-se presidente da República… Costa, diga-se, me processa. Não vou ficar aqui fazendo proselitismo sobre questões judiciais, não! É só para que o leitor saiba. Adiante. Segundo este valente senador, o ministro Fernando Bezerra, da Integração, só está sendo criticado porque é nordestino. Diz ele que, se as verbas para as enchentes tivessem sido enviadas quase todas para São Paulo (seguiram para Pernambuco), ninguém estaria dizendo nada. Logo, tudo não passaria de preconceito antinordestino. Costa é um homem sem dúvida corajoso, mas a acusação é covarde porque ele sabe que há algumas franjas do eleitorado que acabam acreditando nessa mentira. Ao acusar discriminação regional e preconceito, é evidente que está apelando ao… preconceito antipaulista! Esse tipo de procedimento, entendo, é asqueroso. Vamos lá. Já caíram, sob a suspeita de corrupção, os seguintes ministros: Antonio Palocci, Alfredo Nascimento, Pedro Novais, Wagner Rossi, Orlando Silva e Carlos Lupi. Há nesse grupo nada menos de três… PAULISTAS: Palocci, Rossi e Lupi. Alguém ouviu, por acaso, a menor menção de que se tratava de preconceito contra… São Paulo??? Fator Eduardo Campos Costa está desesperado porque o governador Eduardo Campos, de Pernambuco, líder inconteste do PSB, estrela ascendente da política (não é do meu gosto, mas há quem aprecie), detectou as pegadas do PT no que considera campanha contra Bezerra. Bem, existe, sim, é o bom o PSB saber. Isso é verdade. Ocorre que, é raro, mas acontece, o PT, às vezes, conta verdades sobre os outros, ainda que seja para esconder as verdades sobre si mesmo. Bezerra, até agora, não conseguiu dar uma explicação convincente. Dilma Rousseff decidiu blindar o ministro quando sentiu cheio de carne queimada. O PSB começou a dar piscadelas para a oposição na formação de palanques da eleição municipal. Não é segredo pra ninguém que Campos, em seu segundo mandato, anseia bem mais do que o governo de Pernambuco. Eu o chamei aqui, dia desses, de “o Aécio Neves que deu certo” porque ele, de fato, está conseguindo criar uma rede de influências no Congresso e fora dele que, imaginavam muitos, seria criada pelo político mineiro. Conseguiu até nomear a mãe para o Tribunal de Contas da União. Costa inventa um problema que não existe para criar uma cortina de fumaça no problema que existe: boa parte do PSB está convicta de que é o PT quem municia a imprensa com informações contra Bezerra, ainda que verdadeiras. Costa tem de dizer se a demissão de três ministros paulistas é ou não preconceito contra São Paulo. Mas ele não vai responder. Há pessoas para as quais a verdade não é nem boa nem má; é apenas inútil. Mas sempre será útil para os leitores. Por Reinaldo Azevedo