Dirceu Ayres
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pouco tem freqüentado o Instituto Lula desde outubro, quando teve diagnosticado um câncer, mas a articulação política mantém-se intensa no que tornou-se uma espécie de PT paralelo. No comando do instituto, Paulo Okamotto, ex-presidente do Sebrae, diz que a preocupação agora é arrecadar R$ 70 milhões entre empresários para manter a entidade, contratar mais 8 funcionários - hoje são 20 - e tirá-la do sobrado do bairro do Ipiranga. Lula disputará financiadores com quem concorrer na eleição municipal. Okamotto não diz quanto arrecadou para o instituto em 2011. Informa apenas que foi "um pouco mais do que o suficiente" para cobrir as despesas, estimadas em R$ 2 milhões. No instituto, há poucos projetos em andamento para a África e América Latina, apesar de esse ter sido o mote da sua criação O retrato oficial da presidente Dilma Rousseff, com uma dedicatória carinhosa escrita à mão, tem destaque na sala de escritório. Na mesa, um papel de risque-rabisque registra encontros recentes com os ex-ministros Fernando Haddad (PT) e Carlos Lupi (PDT) e divide espaço com o caderno de Esportes de um jornal. Atrás da mesa de despachos, há uma coleção de livros sobre educadores. Em uma das paredes está emoldurado o diploma de um dos prêmios que ganhou, o World Food Prize, por seus trabalhos de combate à fome a à pobreza no Brasil. Na sala ao lado, um grupo de petistas reúne-se para discutir projetos, problemas de São Paulo e eleições. O dono da sala, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem tido uma presença intermitente no instituto que leva seu nome desde outubro do ano passado, quando teve diagnosticado um tumor maligno na laringe. Na tarde da última quinta-feira, seu irmão mais velho, Frei Chico, era recebido no Instituto Lula como "presidente", dada a semelhança física com o irmão político, e ouvia brincadeiras do tipo: "Você tem que voltar a fazer palestras!". É a articulação política que mantém o instituto movimentado nas ausências de Lula. No comando do instituto, Paulo Okamotto, amigo antigo do ex-presidente, preocupa-se em explicar a reunião que acontece ao lado da sala de Lula, com o ex-ministro Luiz Dulci, também diretor do instituto, o presidente estadual do PT, Edinho Silva, e o prefeito de Diadema, Mario Reali (PT). "Não falamos só de eleições não. Lá estão discutindo problemas de São Paulo, fazendo um debate amplo", diz. O instituto tornou-se uma espécie de PT paralelo, frequentado pelo grupo ligado ao ex-presidente. "Aqui a gente se reúne com quem pensa parecido com a gente. Lá no PT tem muita divergência, muita discussão. Aqui conseguimos fazer com que a discussão vá para frente", comenta informalmente Okamotto. Meses antes, enquanto o PT promovia debates entre os pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo, foi no instituto que Lula recebeu quatro dos cinco postulantes e deixou claro que o candidato seria Haddad.No instituto, há poucos projetos em andamento para a África e América Latina, apesar de esse ter sido mote da criação da entidade, segundo Okamotto As viagens internacionais de Lula foram suspensas por conta do tratamento contra o câncer. Segundo o diretor-presidente do instituto, como quase todos os projetos estão vinculados à imagem do ex-presidente, não há um cronograma de projetos, nem de viagens. A preocupação de Okamotto, ex-presidente do Sebrae, é arrecadar R$ 70 milhões entre empresários até 2013. Os recursos irão para um fundo patrimonial para manter o instituto. A meta é arrecadar 98% do valor neste ano, apesar de Lula ter que disputar financiadores com quem concorrerá na eleição municipal. Okamotto não diz quanto arrecadou para o instituto no ano passado. Informa apenas que foi "um pouco mais do que o suficiente" para cobrir as despesas, estimadas em R$ 2 milhões. Afirma que o instituto demorou para ser criado formalmente e, por isso, atrasou a arrecadação. Os R$ 70 milhões serão usados na expansão do instituto, que deve sair de um sobrado do bairro do Ipiranga para uma sala de cerca de 1 mil metros quadrados, ainda sem local definido. Há cerca de 20 pessoas trabalhando no instituto e o número de funcionários deve crescer 40%. O montante a ser arrecadado será usado só para o instituto. Os salários de Lula e de Okamotto não estão vinculados à entidade: são compostos pela aposentadoria e pelos cachês das palestras feitas pelo ex-presidente. Os dois são sócios na empresa L.I.L.S. (de Luiz Inácio Lula da Silva), de palestras. No ano passado foram mais de 30, a maioria no exterior, com um custo estimado entre R$ 200 mil e R$ 300 mil cada. A renda pode ter chegado até R$ 9 milhões. O Memorial da Democracia, projeto de Lula paralelo ao instituto, deve ser ter sua construção patrocinada por empresas e bancos, em uma nova rodada de doações. Okamotto diz que o Instituto Lula deve custear apenas o "plano de negociação", que seria o projeto inicial do museu em que o ex-presidente pretende contar as lutas democráticas do Brasil e o movimento sindical, do qual foi protagonista. A equipe que está trabalhando no projeto é a mesma que atuou na construção de um memorial interativo em Minas Gerais e a estimativa é de custos de até R$ 3 milhões. Nos planos de Okamotto, cada sala do memorial será patrocinada por um grupo econômico. Depois de pronto, deve ser transformado em fundação e doado para um governo gerir. O memorial será erguido na Cracolândia, na região central de São Paulo, em terreno doado pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD). A negociação do memorial fez com que Lula e Okamotto se reunissem algumas vezes com Kassab e facilitou as conversas entre PT e PSD, com vistas à eleição municipal. No dia da doação do terreno ao instituto, a aliança entre os dois partidos era dada como certa. As diferenças entre Kassab e PT, que foi derrotado em 2004 e 2008 e fez oposição ao prefeito, são superáveis, segundo Okamotto. "Ele já derrotou o PT duas vezes. É sinal de que é bom e que podemos aprender com ele", ironizou. (Do Valor Econômico)