terça-feira, 14 de junho de 2011

A OUTRA QUE EU AMO

          Dirceu Ayres



Ela tem um costume estranho, certa vez me disse que gostava de ser a outra. "Só fico com a melhor parte. Filé mignon", definiu, estalando a língua. - Nada de mau humor, estresse de trabalho, discutir a relação, quem apertou o tubo de creme no meio?, Quem deixou o sabonete na saboneteira. Pá daqui, pá de lá. "Só aventurazinhas, sexo intenso, lugares legais, friozinho na barriga, sensação necessária de canalhice", coisa que não vão levar a nada, - ela me explicou. Tinha, portanto, seu homem pela metade. Sempre teve homens pela metade. "A melhor metade", melhor sim, destacou rápida, quase cerrando os olhos. “Mas as relações são como uma costela, tenta argumentar. Por mais que roer osso seja trabalhoso e lambuze a ponta dos dedos, é deste processo que você extrai a carne mais gostosa. Ela, a parte considerada mais difícil, é exatamente a mais saborosa e com paladar inconfundível”. Pode-se comer o filé mignon, evidentemente, mas o corte só fica bom mesmo com um bom molho para dar gosto. Ponderei, então, que sua dieta carecia de um pouco mais de dedicação. A escolha que fazia questão era exatamente aquela que lhe empobrecia o paladar. Podem existir e coexistir separados, mas são infinitamente melhor juntos. E vêm coladinhos diretos do açougue. Com isso eu queria dizer que ela que tendo um marido, não somente seria o meio mais correto como mais cômodo. -Não, ela retrucou!!!”Aí vêm todos os desentendimentos que estragam os relacionamentos por mais sólidos que sejam. Com amante não tem isso, tudo é esporádico, rápido, sem compromissos, sem juramentos de amor, sem nada. O amante é a coisa mais saudável que existe, ruim é ser esposa, tá!. Ter filhos, cuidar da casa, lavar passar e ainda cozinhar. Não, decididamente não vou entrar nessa. Sou e serei amante agora e sempre, ainda vão inventar uma situação tão boa ou melhor do que ser amante, mas ainda não foi dessa vez e nem por enquanto. Agradeço sua preocupação comigo, acho que até minha família se encontra penhoradamente agradecida, más não vou mudar nada”. Ora a essa altura da nossa conversa já não tinha mais o que dizer para tentar dissuadi-la dessa empreitada consciente que é realmente de uma teimosia incrível. Mulher feita, já madura, daquelas que sabe de tudo e já não tem o que aprender dessa gente tão bem “intencionada”, claro... Eu. Eu que ainda sou muito tolo e tento ensinar as pessoas o jeito ou a maneira de viver Observe que ela poderia seguir os meus conselhos e até me agradecer com algum carinho, afinal, sou ou estou muito fragilizado com a chegada da idade e algumas doenças, ela bem que poderia fazer algum carinho e até alguma relação amorosa. Isso me deixaria com toda certeza, muito satisfeito comigo e com ela. Mas aprendi muito cedo que “Na vida, ao contrário do xadrez a vida continua após o xeque mate”. Vou fingir que tem que ser assim mesmo. Fica melhor que “o Vampiro que pede para votar no cara que enfia a estaca”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário