quinta-feira, 21 de julho de 2011

KATRINA HASLIP, MODELO DE SER HUMANO

     Dirceu Ayres            

“Hoje é o primeiro dia, ou o último, do resto de sua vida." Soa meio pomposo e assustador, eu prefiro acordar cada dia para um novo trabalho, seja lá qual for. Cada manhã um novo serviço ou uma nova invenção. Más para quem tem o vírus da AIDS, Todos os dias o desafio de na próxima hora baixar a sepultura ou próxima vez, fazer melhor para ter alguns dias de vida a mais. Não é por isso que devemos ficar desanimados. Más por quê? Veja esta estória: Em 1992 foi publicado o obituário de uma mulher, Katrina Haslip, a quem o The New York Times julgou ser uma pessoa especial, digna de ser lembrada. Katrina Haslip havia morrido de complicações decorrentes da Aids. Ela estava com 33 anos. Era uma ex-interna da prisão estadual de Nova York e tinha sido presa depois de várias condenações como batedora de carteiras. Quando estava na prisão, foi diagnosticado como soro positiva. Procurando ajuda inutilmente, resolveu fundar uma organização na prisão que ajudasse a ela e a outras internas doentes. Depois que saiu da cadeia, continuou seus esforços para conscientizar as pessoas e levantar recursos para mulheres com Aids. Conforme escreveu o NYT, “Haslip, junto com outras organizações de combate à Aids, lutou para pressionar o governo federal a expandir seus esforços para combater a doença entre as mulheres”. Por causa do trabalho de Katrina, dizia o jornal, “os centros federais para controle e prevenção da Aids, um mês antes de sua morte, anunciaram os planos para ampliar a definição da síndrome no sentido de incluir mais doenças que afetam mulheres com o vírus”. Quantas centenas - milhares - de vidas podem ter sido facilitadas, aliviadas, melhoradas e até mesmo salvas, pela quantidade de dinheiro e informação que resultaram dessa iniciativa? Katrina Haslip. Uma batedora de carteiras. Provavelmente viciada, possivelmente prostituta. Presa aos 27. Morta aos 33. Como foi possível uma rodada ou alguma coisa que foi feita e aparentemente perdida como essa ter sido uma jogada para fazer do mundo um lugar melhor? E qual é a nossa desculpa? Isso me lembra a fábula do beija flor que conduzia água em seu bico para apagar um enorme incêndio, os outros animais e pássaros perguntaram se ele achava que ia adiantar alguma coisa aquele tiquinho de água, ao que ele respondeu...”estou fazendo minha parte”. Leva-nos a crer que se todos fizessem o mesmo, tão somente a sua parte, o mundo seria melhor, muito melhor mesmo. Tem vezes que esse sentimento ruim de incompetência ou até nulidade começa com qualquer coisa, uma bobagenzinha à toa, vinda do nada. Mas vai crescendo, e você vai ficando cada vez mais agoniado, porque não sabe o que é nem de onde vem essa sensação ruim. Um pressentimento funesto, um incômodo na alma que não dá trégua, sossego, nem descanso. A sensação horrível de ser nulo ou o que é pior, achar que é a nulidade que é o Timoneiro de nossa vida, ela orienta, dirigiu e ainda nos atordoa.Katrina Haslip Dirceu Ayres “Hoje é o primeiro dia, ou o último, do resto de sua vida." Soa meio pomposo e assustador, eu prefiro acordar cada dia para um novo trabalho, seja lá qual for. Cada manhã um novo serviço ou uma nova invenção. Más para quem tem o vírus da AIDS, Todos os dias o desafio de na próxima hora baixar a sepultura ou próxima vez, fazer melhor para ter alguns dias de vida a mais. Não é por isso que devemos ficar desanimados. Más por quê? Veja esta estória: Em 1992 foi publicado o obituário de uma mulher, Katrina Haslip, a quem o The New York Times julgou ser uma pessoa especial, digna de ser lembrada. Katrina Haslip havia morrido de complicações decorrentes da Aids. Ela estava com 33 anos. Era uma ex-interna da prisão estadual de Nova York e tinha sido presa depois de várias condenações como batedora de carteiras. Quando estava na prisão, foi diagnosticado como soro positiva. Procurando ajuda inutilmente, resolveu fundar uma organização na prisão que ajudasse a ela e a outras internas doentes. Depois que saiu da cadeia, continuou seus esforços para conscientizar as pessoas e levantar recursos para mulheres com Aids. Conforme escreveu o NYT, “Haslip, junto com outras organizações de combate à Aids, lutou para pressionar o governo federal a expandir seus esforços para combater a doença entre as mulheres”. Por causa do trabalho de Katrina, dizia o jornal, “os centros federais para controle e prevenção da Aids, um mês antes de sua morte, anunciaram os planos para ampliar a definição da síndrome no sentido de incluir mais doenças que afetam mulheres com o vírus”. Quantas centenas - milhares - de vidas podem ter sido facilitadas, aliviadas, melhoradas e até mesmo salvas, pela quantidade de dinheiro e informação que resultaram dessa iniciativa? Katrina Haslip. Uma batedora de carteiras. Provavelmente viciada, possivelmente prostituta. Presa aos 27. Morta aos 33. Como foi possível uma rodada ou alguma coisa que foi feita e aparentemente perdida como essa ter sido uma jogada para fazer do mundo um lugar melhor? E qual é a nossa desculpa? Isso me lembra a fábula do beija flor que conduzia água em seu bico para apagar um enorme incêndio, os outros animais e pássaros perguntaram se ele achava que ia adiantar alguma coisa aquele tiquinho de água, ao que ele respondeu...”estou fazendo minha parte”. Leva-nos a crer que se todos fizessem o mesmo, tão somente a sua parte, o mundo seria melhor, muito melhor mesmo. Tem vezes que esse sentimento ruim de incompetência ou até nulidade começa com qualquer coisa, uma bobagenzinha à toa, vinda do nada. Mas vai crescendo, e você vai ficando cada vez mais agoniado, porque não sabe o que é nem de onde vem essa sensação ruim. Um pressentimento funesto, um incômodo na alma que não dá trégua, sossego, nem descanso. A sensação horrível de ser nulo ou o que é pior, achar que é a nulidade que é o Timoneiro de nossa vida, ela orienta, dirigiu e ainda nos atordoa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário