Dirceu Ayres
Não me importo em ver o estrago que o tempo já fez em mim. Há muitas vantagens que adquirimos e ainda podemos adquirir com as marcas deixadas por ele. E eu não nego que gosto desse certo ar de dignidade e ostentação que existe em todos que podem demonstrar a existência vivida com convicção ao longo dos anos; que pode ser entendido como um toque de um aparente Midas que desgastado, mas capaz de transformar o que é bom, em generosamente melhor. Como em toda boa essência, as marcas do tempo fazem sim uma grande diferença. Do lastro formado pelo bom uso do tempo e que nos propicia perceber com maior exatidão que tal acontecimento deu-se pelo crescimento, manipulação e exposição, com aproveitamento máximo das condições oferecidas pelo meio... É bonito e bom, saber e conviver com tais sinais, especialmente quando esses forem gerados pelo entendimento e cadência natural de cada momento vivido, com todas as suas ansiedades, alegrias, sonhos e expectativas. Dessas que fazem com que a delicadeza e a sutileza dos sentimentos, acabem por transformar as rotinas comuns e esperadas, em doces surpresas recomendadas... Já faz muito tempo que eu ouço apenas o que me convém... Sei dos meus defeitos e qualidades e tanto quanto sei que em muitas situações, gero incômodo. Há até certa razão quando dizem que eu preciso de carinho... Que inspiro cuidados... E eu gosto e necessito deles, mas se não sou eu, quem mais vai cuidar de mim? E decidir o que é bom ou ruim para mim? E se eu fosse o primeiro a voltar para mudar o que fiz de errado, quem então seria eu agora? Tanto faz, pois o que não foi, não é... Nem será... E eu ainda estou aqui... No mesmo lugar, mas talvez eu ainda possa chegar a tempo onde muitos me querem ver e até é possível que eu até consiga a espetacular proeza de chegar lá, mesmo antes de mim...Muitos podem pensar que é impossível, não acredito. Mas e daí? E então quem serei eu? Não... Deixo tudo assim como está e não me acanho em ver vaidade em mim, no que sou, sinto, ou represento... Eu assumo e digo o que me condiz dizer a meu próprio respeito. E eu sei do estrago que por vezes causo e não nego... E eu sei que por vezes assusto... Tanto quanto também é certo dizer que me esqueço que eu sou quem mais convive comigo mesmo. E então eu bem que podia ser a primeira pessoa a poder prever e desistir do que for sair errado em mim, mas não acho que valha tamanho esforço... Nem para um lado e nem para o outro... Então eu dispenso a previsão! E o que eu sou é também o que eu escolhi ser... Aceito a condição. Vou levando assim e o acaso é amigo do meu coração... Não sei se me compreende de todo, mas fala comigo e sabe me ouvir... Por conseguinte, agora já as portas de completar sete décadas de existência, muitas coisas que me incomodavam com dezessete ou vinte e sete anos...Já não me incomodam mais. Não sou de ficar como disse Raul Seixas, com a coca escancarada cheia de dentes esperando a morte que está para chegar. Vou lutar, lutar até a hora derradeira. Já não me importo. Veja também: http://www.kadoshacacia.blogspot.com/
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