Dirceu Ayres
Além de providenciar o avião que transportou Carlos Lupi em viagem ao Maranhão, o dono de ONGs Adair Meira ofereceu um jantar para o ministro em Goiânia. “Ele esteve na minha casa. Jantou na minha casa comigo, meus filhos e lideranças do PDT. Eu fui o garçom”, disse Adair ao repórter Jailton de Carvalho. Na semana passada, ao explicar-se na Câmara, Lupi dissera que não tinha “relações” com Adair (no círculo da foto), não voara em “avião pessoal” dele e não sabia “onde ele mora.” Nesta quinta (17), em depoimento no Senado, Lupi viu-se compelido a se desdizer. Conhece Adair, voou no King Air providenciado por ele e encontrou-o num jantar. Chamado de “mentiroso”, Lupi recusou o rótulo. Preferiu impingir a si mesmo a pecha de desmemoriado. “Não tenho memória absoluta”, disse. Mais contido que o usual, Lupi parecia trazer dentro da boca não a língua solta de sempre, mas uma fita métrica. Ao reconhecer que jantara com Adair, o ainda ministro absteve-se de dizer que o repasto ocorreu na casa de seu ex-desconhecido. Expressou-se assim: “Depois da denúncia, comecei a checar tudo. Tive agenda com ele em Goiás. Fui num jantar em Goiânia e o Adair estava lá.” A mesa foi servida no início de 2010, meses depois de Lupi ter voado nas asas providenciadas pelo dono de ONGs que obteve convênios milionários no ministério. Adair cedeu a casa que mantém na capital goiana a pedido da deputada Flávia Moraes (PDT-GO). “A deputada não tinha casa em Goiânia e me pediu para eu fazer o jantar. Fiz. Foi um lobby meu. Um lobby legítimo”, conta o gestor de ONGs. Dessa vez, Lupi talvez não se anime a ter um novo lapso de memória. Segundo Adair, o jantar foi registrado em fotos de seus familiares, da deputada Flavia e do verador de Goiânia Paulinho Graus (PDT). Adair Meira falou também ao repórter Fabiano Costa. Nessa entrevista, jactou-se de ter proporcionado a Lupi a recuperação da memória: “Fui eu que provoquei a mudança no discurso ao dizer publicamente que ele estava sem memória e equivocado. Não estranhei a nova versão. Achei mais do que justa.” Perguntou-se a Adair se acredita no lero-lero da amnésia. A resposta soou enigmática: “É uma boa pergunta, mas não tenho como respondê-la. O ministro teve suas razões para dizer que não me conhece.” Adair adjetivou a relação que mantinha com Lupi como “formal”. Deu a entender que veio aos holofotes para proteger a reputação de suas ONGs, às quais a Controladoria-Geral da União atribui fraudes e desvios de verbas: “A declaração do ministro nos levou para o limbo. Fomos atingidos institucionalmente. Foi por esse motivo que reagi. Olha o estrago que o Lupi provocou.” Adair foi instado pelo repórter a relatar as circunstâncias que o levaram a providenciar o avião que levou para os ares o que restava da reputação de Lupi. Contou: “Sou uma pessoa com amplas relações no setor aéreo…” “…Quando o Ezequiel [Nascimento, ex-secretário de Políticas Públicas de Emprego] me pediu ajuda para alugar um avião, liguei para um empresário amigo meu e falei:…” “…‘Você tem uma aeronave disponível? Então, vai te ligar uma pessoa para combinar roteiros.’…” “…Na seqüência, Ezequiel ligou para ele. A partir deste momento, só fui procurado pelo ex-secretário quando ele me convidou para ir junto para Grajaú, sua cidade natal.” Adair mantém a versão de que não foi chamado a levar a mão ao bolso. No ultimo fim de semana, a assessoria de Lupi atribuíra as despesas ao PDT do maranhão. O partido negou que a verba tenha saído de suas arcas. No Senado, o novo Lupi declarou que cabe ao ex-assessor Ezequiel explicar, não a ele. Quem pagou?, Eis a interrogação que continua boiando na atmosfera como um desafio à recém-recobrada memória de Carlos Lupi. Por Josias de Souza às
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