segunda-feira, 7 de maio de 2012

Grupo de Cachoeira negociou emendas parlamentares ao Orçamento da União



    Dirceu Ayres

Investigação da PF durante a Operação Vegas mostra que contraventor tratou do assunto com Wladimir Garcez Diálogos interceptados na Operação Vegas indicam que a influência de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, se estendia até mesmo ao Orçamento-Geral da União. O contraventor atuava para negociar e liberar emendas parlamentares de interesse da organização criminosa que ele comandava. As investigações da Polícia Federal (PF) revelaram que Carlinhos Cachoeira trocava favores com os parlamentares. Bancadas de 9 Estados deram R$ 104 mi à Delta Em 2011, União pagou R$ 808 mi Perillo articula apuração 'chapa-branca' Maioria da CPI quer convocar já Cavendish  Citados pela PF, Leréia e Sandes Jr negam envolvimento Os áudios, obtidos pelo Estado, detalham a negociação de emendas ao Orçamento de 2009 entre o grupo de Cachoeira. O material da Vegas, entregue na semana passada ao presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), será o ponto de partida dos trabalhos da comissão instalada para apurar as relações do contraventor com políticos. Em 9 de outubro de 2008, Cachoeira liga para o ex-vereador de Goiânia, Wladimir Garcez, cobrando notícias da visita de integrantes da organização criminosa aos aliados de Brasília. "E o nosso amigo?", pergunta Cachoeira. "Objetivo, rápido e 100% nosso", responde Garcez, completando que passou também nos gabinetes dos deputados federais Roberto Balestra (PP-GO) e Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO)."Ligamos para ele (Leréia) e a Zezé (assessora do parlamentar) nos atendeu. A Zezé veio falar em emenda lá de 400, 500 conto. Tem que ser, no mínimo, um milhão", reclama Garcez. Carlinhos responde: "Não. Pode deixar. O Gordinho também tem que ser uns dois milhões". "O Sandes Júnior?", pergunta o aliado de Cachoeira. "É. Também." Em alguns trechos das investigações, a PF indica que Gordinho seria o apelido do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Nas conversas, não há indicação da obra que seria beneficiada com o repasse de verbas públicas. Amanhã, a Comissão de Ética do Senado decide se abre processo por quebra de decoro contra Demóstenes, um dos parlamentares citados nas operações da Polícia Federal. Alvos de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), os deputados Carlos Alberto Leréia, Sandes Júnior (PP-GO) e Stepan Nercessian (licenciado do PPS-RJ) também terão de prestar esclarecimentos à Corregedoria da Câmara. A PF e a Procuradoria-Geral da República (PGR) identificaram o envolvimento dos parlamentares com o chefe da máfia dos caça-níqueis. No ofício 181/2008, do Núcleo de Inteligência Policial, a PF já ressaltava os contatos políticos do grupo de Cachoeira. "Os interlocutores mais frequentes de Carlos são os deputados federais Sandes Júnior e Carlos Alberto Leréia, que inclusive usa o avião de Carlos, e os vereadores eleitos em Anápolis Fernando Cunha, Maurão e Dominguinhos." Em 2011, a Operação Monte Carlo indica que a rede do contraventor inclui outros parlamentares, prefeitos e governadores. Resposta. Em nota, Leréia informou que protocolou aos líderes do Congresso uma cópia do relatório do inquérito 3.430 do Supremo. "De forma límpida e transparente nas partes do inquérito, é apresentado o relatório conclusivo das investigações elaboradas pela PGR, onde concluíram que não existem elementos mínimos que demonstrem que eu tenha participação com o objetivo da investigação." Sandes Júnior alega que nunca foi procurado por Garcez ou mesmo Cachoeira para tratar de emendas. "Se eles tinham interesse, numa falaram comigo. Sempre atendi, com as minhas emendas, Goiânia e as cidades vizinhas porque fazem parte da minha base eleitoral", disse, em entrevista. A defesa de Demóstenes não comenta os áudios das operações. Já o deputado Balestra não retornou as ligações do Estado. Alana Rizzo - O Estado de S.Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário