sexta-feira, 18 de março de 2011

É RIDÍCULO MORRER.

A MORTE
Dirceu Ayres
Morrer é ridículo. Obriga você a sair da festa no melhor dos acontecimentos sem nem poder se despedir de ninguém, sem ter dançado a música de sua preferência com a garota mais linda ou a mais querida do salão, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas, ternos e calças penduradas nos cabides, cuecas e meias nas gavetas, sua toalha úmida no varal e penduradas também para não perder o costume, algumas contas a pagar. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, conhecer alguns de seus segredos, mexerem nas suas gavetas, apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre dizia: -No que é meu e nas minhas coisas, ninguém mexe, deixe que eu mesmo cuido.- Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e não vai almoçar nunca mais, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não possa concluir o que pretendia dizer. Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, tudo bem, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, esfarrapa, culpa o esquecimento sem falar que não há quase nada guardado nas gavetas do cérebro. Hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo, antes de viver até a raspagem do que tem para viver? Isso não se faz. Morrer cedo é como uma transgressão desfaz toda a ordem que seria normal e natural das coisas, da juventude, da experiência de ser mais idoso e sabe aproveitar mais a vida. Morrer é um desnecessário exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que essa piada não tem graça. Por isso viva tudo que há pra viver. Não se apegue as coisas pequenas e inúteis da vida, acima de tudo esqueça os inimigos e mais... Perdoe Sempre!!!! Que desgraça de piada sem graça. Morrer, virar defunto, deixar tudo que você foi, construiu, fez, adquiriu, fica tudo para os outros, até os que não têm merecimento para receber nada. Vai servir de comida para os germes tapurus, micróbios e tudo que se arrasta no lodo da podridão, a carne se esvaem, os ossos apodrecem e quem sabe o onde, o prá donde estariam nos mandando se é que tudo não termina naquele ato. Ninguém sabe se alguém já teria voltado, mesmo em outro corpo ou se essa de reencarnação é mesmo prá valer. Que coisa mais ridícula, enganosa sem lógica, sem futuro. É, realmente é mesmo, uma piada sem graça nenhuma, uma invenção de gosto péssima essa de morrer. Até onde se sabe, morrer não é somente um estrago de vida, estrago das coisas que mais gostamos, é também a idéia mais sem graça de algum avatar ou algum Deus distraído sem ter o que fazer, ora bolas, deveriam procurar alguma coisa para se ocupar, largar essa estória de morrer, mandar chamar, fazer morrer, mandar a morte buscar o sujeito. Deixa isso para quando o endividou estiver mais perto dos cem anos, aí sim, estará tudo bem e sem reclamação. Por isso e outros motivos Politicamente corretos é que eu acho e continuarei achando que morrer é alem de uma coisa muito imbecil é também uma perda de tempo ou dos Deuses ou de algum “nada faz” que puxa saco de Deuses, um tipo de “João nada” no Olimpo, um desocupado que deve arranjar outra coisa prá fazer. E deixar a morte das coisas e pessoas pra lá.

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