sexta-feira, 18 de março de 2011

MAL DE ALZAIMER.

DIRCEU AYRES
Aos 19 anos, em 1932, o jogador leônidas ganhou seu primeiro título com a seleção nacional, a Copa Rio Branco. Até a molecada que nunca tinha ouvido falar de Leônidas da Silva hoje já sabe que aquele crioulo de 1,65m de altura marcou história no futebol nas décadas de 30 e 40 e foi o aperfeiçoador da "bicicleta" inventada por Petronilho de Brito, irmão de Waldemar de Brito. Após a divulgação da morte deste carioca de São Cristóvão, no sábado (24/01), as tevês não se cansaram de repetir imagens em preto e branco do centroavante flutuando em posição horizontal, paralela ao gramado, de costas para o gol adversário, pedalando no ar e arrematando sem chances para o goleiro. As fotos surradas pelo tempo também circularam indistintamente pelos jornais e a trajetória do talentoso atacante tem sido recontada, com descrições de atuações memoráveis pela Seleção Brasileira nas Copas de 1934 e 1938; por clubes como Vasco, Botafogo-RJ, Flamengo e São Paulo; e pela contundência como comentarista esportivo da Rádio Jovem Pan, de São Paulo. E não é que a amaldiçoada doença denominada "Mal de Alzaimer" apagou do cérebro de Leônidas essa rica história no futebol! Alzaimer! O que é Mal de Alzaimer?, Questionam muitos, porque o jornalismo esportivo, na maioria das vezes, se restringe os vocábulos do segmento e não se atreve a dissecar assuntos paralelos. A doença, também conhecida como demência, afeta todas as funções do cérebro, com reflexo na fala, memória, raciocínio lógico e confusão mental. Ela incide em cerca de 20 milhões de pessoas no mundo e castigou Leônidas desde 1993, quando foi internado na Clínica Recanto São Camilo, em São Paulo. Esse traiçoeiro Mal de Alzaimer, quando em estágio avançado, deixa o paciente totalmente dependente dos outros, como foi o caso de Leônidas, que sequer conseguia lembrar-se do público recorde de 74.078 pagantes no Pacaembu, no dia 24 de abril de 1942, em sua estréia com a camisa do São Paulo, no empate em 3 a 3 com o Corinthians; dos sete gols marcados na Copa de 38; e do período em que vivia rodeado de loiras e andava com nariz empinado. Homeopatas alardeiam que essências florais provocam energia estimulante aos pacientes de Alzaimer e os elevam espiritualmente, mas neurologistas preferem creditar a uma vacina - ainda teste - como efeito terapêutico capaz de evitar a degeneração progressiva de células nervosas. Leônidas havia completado 90 anos no dia 6 de setembro passado, 42 deles enfiados em campo do futebol. Quando parou de jogar, em 1949, ingressou no rádio para analisar futebol, e ganhou notoriedade porque fugia da obviedade. Pela velocidade de raciocínio, Leônidas deveria se enquadrar no bloco de idosos com menor propensão para desenvolver a doença, se forem considerados os dados de pesquisadores da Universidade de Columbia, em Nova York, que atribuem redução de 38% na possibilidade de idosos desenvolverem a doença caso exercitem a leitura, assistam filmes, tenham alto nível de escolaridade ou raciocinem de forma contínua. Mas ele não se enquadrou. Lamentavelmente, Leônidas não merecia um final de vida de forma vegetativa. Melhores sortes terão pacientes de Alzaimer diagnosticados no início da doença, se confirmadas previsões de neurologistas após congresso em Cuba. Se a cura ainda não é possível, pelo menos aumenta a perspectiva de se evitar a maneira vegetativa do fim.

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