quinta-feira, 10 de março de 2011

A LEI DE TALIÃO PARA O BRASIL

                                           Dirceu Ayres

Olho por olho, dente por dente. Esta é a famosa Lei de Talião. Em nossos momentos de revolta pensamos imediatamente em vingança e, ousamos em nossa ira, declamar que “bandido bom é bandido morto”. Ladrão bom é ladrão morto. Poderíamos aqui acrescentar que certos políticos aqui no Brasil se enquadrariam no provérbio.Consideramos a frase acima como um aforismo de desabafo, pois é muito triste acreditar em sã consciência que queiramos ser senhores da vida alheia por mais desprezível que esta nos possa parecer. Os sociopatas, criminosos irrecuperáveis, autores de crimes hediondos, devem ser afastados de forma definitiva do convívio com a sociedade, assim como certos políticos que nunca fazem nada, nada pela sociedade, enriquecendo as nossas custas. Mas seria a pena de morte uma solução ou apenas um paliativo para aplacar a dor das vítimas? Poderíamos também arranjar um jeito para aqui nos defendermos dessa famigerada Lei de Murfy “Se há duas ou mais formas de fazer alguma coisa e uma das formas resultarem em catástrofe, então alguém a fará”. Deve ser isso que que está nos acontecendo votando em Políticos que não somente dizem, mas garantem que lutarão pelos nossos interesses e quando chega lá esquece de tudo , só lembra de arranjar, arrecadar e juntar tudo que for vantágem para seu cofre, sua família e seus amigos e correligionários. Diábos, isso deve ser a lei de Gerson. Comenta-se que: A pessoa que "gosta de levar vantagem em tudo", no sentido negativo de se aproveitar de todas as situações em benefício próprio, sem se importar com a ética, isso é a lei de Gerson. A expressão originou-se em uma propaganda, de 1976, para os cigarros Vila Rica, na qual o meia armador Gérson da Seleção Brasileira de Futebol era o protagonista. Embora tenha sido um dos maiores craques da história do futebol mundial, Gérson sempre foi um jogador polêmico e praticava essa mentira. A propaganda dizia que esta marca de cigarro era vantajosa por ser melhor e mais barata que as outras, e Gérson dizia que era boa e verdadeira embora o cigarro não prestasse. Este ideal subjacente à "lei de Gerson" é, indiscutivelmente, um dos valores mais arraigados à cultura brasileira. Embora nem sempre verbalizado, a valorização e a mitificação desta "lei", do conceito de malandragem, do uso de "pistolões"(Br.) ou de "cunhas" (Pt.) são aqueles dos comportamentos socialmente condicionados que em grande parte levam o Brasil a manter-se tão imaturo cultural, política e socialmente. A forma como se dá a política brasileira, tão mal falada, antes de ser a causa dos problemas brasileiros, é, senão exclusivamente, ao menos simultaneamente conseqüência de valores tão maléficos. Agora imaginem se aplicasse-mos a Lei de talião (T minúsculo) aos nossos polítcos que não sejam ou não consigam ser tão honestos quanto preciso e os fizessemos pagar devolvendo tudo que eles tirara desonestamente da Nação e depois os expurgasse, beleza, com certeza o Brasil iria melhorar muito. A enxurrada de corrupção que está sendo conhecida pelos brasileiros vindos à tona dos subterrâneos enlameados deste país, em denúncias que surgem por vários cantos, mostrados pela imprensa, tem muito a ver com essa ou aquela "Lei de Gerson". Se o leitor examinar a fundo as motivações que levaram as pessoas, envolvidas nessas corrupções, a desejarem cada vez mais dinheiro extra, era à vontade, cheia de ganância, de "levarem vantagem" da função pública que exerciam, ou do cargo político para o qual foram eleitas. "Levar vantagem", desviando recursos públicos ou explorando outros que pagavam as propinas para também eles, "levarem vantagem" em alguma coisa. Chegou-se ao ponto, tempos atrás, de até um suplente de deputado mandar matar a titular para assumir o seu lugar, levando vantagem... Felizmente foi cassado. Parecia que ia se safar impune como tantos outros, como por exemplo, aquele "Anão do Orçamento" que chegou a ridicularizar a inteligência brasileira, dizendo que a grande fortuna que amealhou era fruto de mais de 200 prêmios ganhos na loteria e aquele tal juiz que teve a coragem de afirmar que a sua fortuna veio de um tio que era alfaiate e não era produto de desvio das verbas da construção de certo prédio do Tribunal em SP... E a sociedade brasileira (ou seja, cada um de nós, você, eu...) assiste estarrecida à escalada gritante de corrupção em muitos lugares, em escalões diversos das administrações do país, em muitas esferas de poder. E o que é mais estarrecedor: quando um corrupto é pego, nega e mente descaradamente... Essa escalada de corrupção parece indicar a disseminação social de um comportamento sem ética que está afetando o relacionamento entre as pessoas, condicionando-as a, também elas, quererem "tirar uma casquinha" de alguma oportunidade levando vantagem, também elas... Isso tudo tem ocorrido porque a sociedade atual incentiva às pessoas a uma busca frenética de "ter" cada vez mais, em detrimento do "ser", com valores de vida distorcidos, valorizando somente o "ter cada vez mais vantagens" sobre os outros (bens financeiros, em especial, bens materiais, etc.) não importando se para isso, elas precisem agir de modo desonesto, utilizando meios escusos e pouco éticos ou lícitos. Em outras palavras, parece ser a disseminação de que "ser desonesto, conseguindo vantagens, é ter mais valor, é ser mais esperto do que os outros". Assim, com esses valores de vida distorcidos, as pessoas começam a olhar para as outras como se elas fossem "lobos que podem devorá-las". Esse estado de coisas leva a refletir se a sociedade humana ainda tem condições de ter seres humanos mais equilibrados e saudáveis e que ajam com caráter, honradez e eqüidade, sem terem a necessidade de "passarem por cima" de Leis, da ética, para levarem vantagem. Uma sociedade onde ser honesto, ter caráter e agir com responsabilidade seja a regra geral para as pessoas e não a exceção. Há muitos anos atrás Rui Barbosa (1849-1923), estadista, jurista, Ministro da Fazenda e embaixador, já alertava em carta aos senadores da época: "A falta de justiça, Srs. Senadores, são o grande mal da nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação. A sua grande vergonha diante do estrangeiro, é aquilo que nos afasta os homens, os auxílios, os capitais. A injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade, promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas. “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.

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