terça-feira, 24 de abril de 2012

LESÃO CEREBRAL

Dirceu Ayres
Recentemente chegamos ao fundo do poço. A ausência total de valores, estímulo à mentira e a corrupção. O mínimo de moralidade pública e privada foi corroído no país onde todos são “heróis”. E heróis quase miseráveis que só ganham a insignificância vinte e oito mil reais ou cento e doze mil por mês, que miséria!!!. Será que o povo brasileiro sofre de lesão cerebral? Não creio, pois isto nos eximiria de qualquer responsabilidade. Prefiro dizer que levamos ao paroxismo a cultura da sem-vergonhice, consentida e consciente, aquela que as mais altas autoridades esbanjam como patrimônio nacional. Na pátria de Macunaíma quem rouba, faz. Quem mata tem seus direito humanos preservados. Afinal, somos como diria aquela autoridade: “éticos” e “não existe pecado do lado de baixo da linha do Equador”. Não há do que se queixar. Atualmente algumas pessoas que se envergonham de serem brasileiras, perguntam: “Será que nosso povo perdeu a vergonha, pois acha natural tudo o que esse governo faz e ainda o reelege” Bem, isto faz parte de uma longa história, a nossa história, e seria necessário escrever um “Tratado de Sociologia da Sem-vergonhice” para formular resposta adequada. Em todo caso, tentarei dá-la, ainda que de modo bastante resumido. Começo lembrando uma interpretação biológica baseada em leitura da Folha de S.Paulo, de /03/07. 06. Segundo o jornal, neurocientistas pesquisaram e levantaram a hipótese de que existe uma parte específica do cérebro, (córtex prefrontal ventromedial) onde se alojam emoções, e que parece ser crítica para certos aspectos da moralidade. As pesquisas feitas com grupos de pacientes que apresentavam lesão nessa região cerebral mostraram que eles exibiam menos empatia, compaixão, culpa, vergonha e arrependimento. Se analisarmos o governo que aí está notaremos “que nunca dantes nesse país”, autoridades, que deveriam dar bom exemplo, tiveram tão pouca empatia ou compaixão com relação ao povo. Vimos idosos de noventa anos ou mais em filas para provar que estavam vivos. A Saúde é um descalabro e nos atendimentos do SUS se observa a crueldade dos funcionários dispensada aos doentes. Rebaixaram os rendimentos da poupança para premiar os grandes investidores, prejudicando os menores. O FGTS poderá ser afetado do mesmo modo e o trabalhador, que sempre votou no Partido dos Trabalhadores, vai perder renda se perder da inflação. O apagão aéreo parece divertir o governo que nega a crise, enquanto o presidente da República finge que está tomando providências. A lista de maldades é vasta, sendo impossível enumerá-las todas em curto artigo. Quanto aos sentimentos de culpa, vergonha e arrependimento inexistem. É como se dissessem: Se o Executivo mandar, faremos todos se não mandar, esquece. Quanto à maioria dos brasileiros, se fosse estudada pelos neurocientistas provavelmente seria apontada como portadora da tal lesão cerebral. Mas, como penso que as teorias sobre o cérebro ainda engatinham nos caminhos da ciência, prefiro a opinião de Michael Koenigs que afirmou: “a reação da maquinaria emocional com respeito a questões morais é sem dúvida moldada por forças culturais”. Hoje em dia continuamos a viver atrás de facilidades preferivelmente alcançadas por esperteza ou doação de alguma autoridade paternal. Não temos de modo geral o sentido de conquista no tocante ao esforço pessoal, não nos faltando, porém, a capacidade predatória. Não sabemos exercer o poder, mas tão-somente nos beneficiar do poder. Simulamos democracia, mas somos autoritários. Preferimos sempre culpar alguém ou algo para nos eximirmos de nossas responsabilidades. Somos ufanistas com relação à nossa cultura da malandragem e da sem-vergonhice. Acredito que aqui cabe esse dito encontrado na internet:
“ESTÁ NA HORA DE VOTARMOS NAS PUTAS”...
...”porque nos filhos delas não tem dado certo”!
Não quero com isso lembrar as Sanguessugas, Mensaleiros ou até os da “Moda” Cartões de Crédito ou Corporativos, é somente lembrar que no Brasil usando a lei de Gerson, tudo sai melhor, não precisamos dos Neurocientístas para isso.



Por que a Delta ganhou obras do governo petista mesmo acusada de corrupção? A ministra Miriam Belchior que responda.


                            
    Dirceu Ayres

Comentário: a ministra Miriam Belchior, a atual "mãe do PAC", deve ser chamada pela oposição para explicar porque uma construtora acusada de corrupção continuou recebendo polpudos contratos do governo petista, como se nada tivesse acontecido. Abaixo, matéria de O Globo. Após ser apontada como líder de um esquema de corrupção que desviou milhões de reais dos cofres da União e veio a público em agosto de 2010 - na Operação Mão Dupla, feita pela Controladoria-Geral da União (CGU) com a Polícia Federal (PF) - a construtora Delta continuou assinando contratos de alto valor com órgãos federais. Desde que o governo tomou conhecimento das graves irregularidades cometidas pela empreiteira em obras de rodovias no Ceará, foram assinados 31 novos contratos com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), no valor total de R$ 758 milhões.

A Operação Mão Dupla identificou fraudes em licitações, superfaturamento, desvio de verbas, pagamentos de propina, pagamentos indevidos e uso de material de qualidade inferior ao contratado em obras de infraestrutura rodoviária sob o comando do Dnit feitas pela Delta e outras 11 empreiteiras. A investigação resultou na prisão do então superintendente do Dnit no Ceará, Joaquim Guedes Martins Neto, que, segundo a CGU, tinha, em 2008, "rendimento incompatível com a renda auferida pelo agente público", e do diretor da Delta Aluízio Alves de Souza. Na época, a CGU informou que detectara "um prejuízo estimado em R$ 5 milhões aos cofres públicos da União, afora o risco social decorrente da execução de obras de infraestrutura rodoviária fora das devidas especificações técnicas". No sábado, o ministro da CGU, Jorge Hage, reconheceu que as irregularidades apontadas pela Mão Dupla são graves. Mas isso não impediu que o Dnit celebrasse novos contratos com a Delta, sendo três deles (no valor total de R$ 9,6 milhões) no Ceará, onde foram detectadas as irregularidades em 2010. Trata-se da conservação e da recuperação de trechos das BRs 116, 437 e 230. Os contratos firmados desde agosto de 2010 são para construção, duplicação, adequação ou manutenção de 19 rodovias em 17 estados. Além disso, em setembro de 2010, através de consórcio com outras duas empresas, a Delta conseguiu fechar com a estatal Valec um contrato de R$ 574,5 milhões para tocar as obras do lote um da Ferrovia Oeste-Leste, na Bahia. O Dnit e a Valec são ligados ao Ministério dos Transportes. A empreiteira ganhou destaque recentemente no noticiário por suas ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso pela PF em fevereiro na Operação Monte Carlo. Hoje, a CGU promete abrir processo administrativo contra a Delta. O resultado dessa investigação poderá tornar a empresa inidônea, o que implica a proibição para firmar novos contratos com o governo federal. Além do Ceará, foram assinados contratos entre o Dnit e a Delta para obras em Alagoas, Amazonas, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia, Sergipe e Tocantins. Dos 31 contratos, apenas um, de R$ 115 milhões, em Goiás, foi paralisado. Desse valor, o Dnit já pagou R$ 8,8 milhões à Delta. Vinte e cinco contratos, no valor de R$ 611,7 milhões, constam como ativos. Outros três foram cadastrados no início de 2012 e totalizam R$ 13,6 milhões, mas as obras ainda não começaram. Dois contratos, no valor de R$ 17,8 milhões, já foram concluídos. Desse montante, R$ 15,6 milhões foram pagos à construtora, segundo o próprio Dnit. Em agosto de 2010, na Operação Mão Dupla, a PF cumpriu 52 mandados de busca e apreensão, 23 de prisão temporária e um de prisão preventiva. Houve ainda o afastamento cautelar de oito servidores públicos e sequestro de bens em Fortaleza e no interior do Ceará. A CGU analisou oito contratos e detectou irregularidades em sete, referentes a quatro obras, dentre as quais duas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Uma delas é a duplicação de uma ponte na BR-304, sobre o Rio Jaguaribe, no município de Aracati, orçada em R$ 30 milhões. A obra foi iniciada pela Delta em 2002 e, por sete anos, as fundações permaneceram de molho nas águas do rio, enquanto a travessia era feita pela ponte velha. A Delta, que desistiu de construir a ponte, alegou "elevação dos custos que dificultaram a realização do projeto inicial previsto no edital". Segundo Hage, o processo admistrativo disciplinar contra o então superintendente regional do Dnit no Ceará e outros seis servidores pode resultar em demissão. Na última sexta-feira, o Ministério Público Federal propôs ação penal contra os servidores do Dnit no Ceará e contra a Delta por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e ativa com base nos resultados da Operação Mão Dupla. Procurado para manifestar-se sobre a assinatura dos contratos, o Dnit informou, por meio da assessoria, que vai esperar a decisão da Justiça e da CGU para tomar medidas em relação à Delta. "A empresa não é considerada inidônea ainda", destacou a assessoria.O grande número de contratos com órgãos públicos obtidos pela Delta se refletem em seu faturamento. Dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) mostram que até 100% dos ganhos da construtora vêm de contratos com o setor público. Entre as seis maiores empreiteiras do Brasil, a Delta é a única que se dedica quase exclusivamente à construção de pontes, viadutos, estradas, túneis, aeroportos e projetos de saneamento. A construtora teria realizado obras para a iniciativa privada nos anos de 2007, 2008 e 2011, mas manteve um percentual acima de 97% de projetos destinados a prefeituras, estados e União. Os maiores percentuais de crescimento da Delta ocorreram em 2006/2007 (67%) e em 2009/2010 (51%).



Para Serra, PT atua com 'fascismo' para destruir adversários


    Dirceu Ayres


Tucano acusa petistas de fazerem campanhas de desqualificação de seus oponentes na internet SÃO PAULO - O pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, adotou um discurso de polarização com o PT e afirmou que o partido "atua para destruir adversários". Sem se referir especificamente a seu rival na disputa da capital paulista, o petista Fernando Haddad, Serra classificou essa conduta como "fascismo". "Nós fazemos política verdadeira. Tem disputas, tem diferenças, tem convergências e divergências. Mas nós respeitamos os adversários. Não atuamos para destruir ninguém, e isso é fascismo: a destruição e a desqualificação dos adversários", disse Serra durante a formalização do apoio do PSDB ao candidato do PPS à prefeitura de São Bernardo do Campo, Alex Manente. "Infelizmente, no nosso País, o partido principal, que é o partido que está no poder federal, é um partido que atua para destruir os adversários. Destruição não é fazer política." Para o tucano, os petistas fazem campanhas de desqualificação de seus oponentes na internet, por exemplo. Ele afirma que o PSDB e o PPS representam parte da "resistência". "Nós temos uma luta comum, PSDB e PPS. São partidos que defendem a liberdade de organização, de palavra e de imprensa", disse. Serra estendeu as críticas ao governo federal à economia: reafirmou que o Brasil sofre um processo de desindustrialização e que o País está submetido "a uma administração de natureza publicitária". "Esses problemas provavelmente não serão debatidos na eleição municipal, mas estarão presentes como pano de fundo", afirmou. O tucano prometeu participar da campanha de Alex Manente em São Bernardo do Campo "no dia que precisar". O principal adversário da chapa PPS-PSDB na disputa é o atual prefeito Luiz Marinho (PT). Na capital, o PSDB tentou conquistar o apoio do PPS a Serra, mas o partido mantém a pré-candidatura de Soninha Francine. "É uma relação amistosa na capital. Claro que a gente gostaria (de receber o apoio), mas o PPS tem autonomia e terá sempre minha compreensão e respeito." Bruno Boghossian, do estadão.com.brSerra vai apostar em imagem de 'inovador' na campanha à PrefeituraEstratégia foi adotada pela campanha para rebater críticas de que ele é um veterano “Inovação é o nome da nossa gestão”, disse o ex-governador José Serra (PSDB) em conversa com líderes comunitários da Lapa, zona oeste da capital, na quinta-feira. Na disputa pela Prefeitura, o tucano vai se apresentar como um administrador moderno para fazer frente às críticas dos adversários, que tentam lhe impor a imagem de político antigo. Aliados apontam o caminho: querem que Serra enfatize um discurso pautado por propostas de gestão eficiente, redução da burocracia e informatização de serviços públicos. Sua equipe teme que o pré-candidato, mergulhado na vida pública há quase 50 anos e conhecido por 99% da população, pareça um político sem novas ideias ao lado dos “iniciantes” Fernando Haddad (PT) e Gabriel Chalita (PMDB). A marca de inovador será um dos motes da fala de Serra na propaganda do PSDB paulista na TV, que vai ao ar a partir de sexta-feira. O tucano gravou sua participação no domingo, 22. O antídoto também começou a ser aplicado nas conversas do candidato com os cidadãos. Ao defender seu legado à frente da Prefeitura e do governo do Estado, Serra tem destacado projetos que considera ousados - como a expansão da Marginal do Tietê - e marcas criadas por ele - como a Virada Cultural. “Modéstia à parte, se vocês olharem o que a gente fez, a quantidade de inovação é imensa - e vamos continuar nessa direção”, disse aos eleitores. Reação. A estratégia é uma reação do PSDB a provocações feitas pela cúpula petista desde a entrada de Serra na disputa. No mês passado, aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva relataram que ele chamou o tucano de “um político de ontem com ideias de anteontem”. Aos 70 anos, Serra vai ser o candidato mais velho entre os principais postulantes à Prefeitura. Mas, para os tucanos, isso não será um problema. “Os outros candidatos podem ser jovens, mas são mais velhos em suas práticas e propostas”, diz Walter Feldman, que trabalha na campanha do ex-governador. Aliança. O presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra, afirmou nesta segunda-feira, 23, à noite que seu partido está “muito próximo” de fechar aliança com o DEM na eleição de Salvador. Os tucanos estudam lançar a candidatura do deputado Antonio Imbassahy à Prefeitura da capital baiana, mas dão sinais de que desistirão do projeto para apoiar o democrata ACM Neto, que anunciou nesta segunda que disputará as eleições este ano. “Nosso partido e o Democratas estão conversando intensamente lá. O (ACM) Neto é uma liderança do DEM e da oposição. Para nós, é indispensável, sobretudo na Bahia”, disse Guerra. Imbassahy resiste a se retirar da disputa, mas, para o PSDB, o acordo em Salvador é visto como um passo para a formalização do apoio do DEM a Serra. “Acho que vai haver um entendimento, mas não me aventuro a dizer qual será”, disse Guerra./ COLABOROU TIAGO DÉCIMO Bruno Boghossian, do estadão.com.br





BRASIL E O CONGRESSO.


            Dirceu Ayres

Os Congressistas mais bem pagos do mundo. Os parlamentares brasileiros, senadores e deputados federais, estão entre os representantes federais de maiores salários do planeta, 8% a mais, que os congressistas americanos e 84% mais que britânicos, cerca de 550% a mais que os argentinos. Com o efeito cascata que o aumento. Provocou, aumentando salários de deputados estaduais e vereadores, que são vinculados ao teto dos federais, o reajuste vai custar, aos cofres públicos, R$ 2 bilhões adicionais a cada ano. O aumento aprovado pelos nossos deputados e senadores, de 61,8% em seus salários, em tempo recorde, sem muita discussão ou debates prolongados, na quarta-feira, “deixa os vencimentos básicos de deputados e senadores do Brasil 8% maiores do que os dos congressistas americanos e 84% maior do que os dos britânicos.” A decisão aprovada no Congresso brasileiro elevou os salários dos deputados e senadores de R$ 16,5 mil para R$ 26,7 mil, a partir de fevereiro de 2011. Isso sem contarmos com aqueles benefícios básicos, os salários indiretos, como o poder de contratar dezenas de assessores, receberem lotes de passagens aéreas, moradia grátis, verbas de representação e seguro saúde, familiar. Esses são os mesmos que não levarão nem dez (10) minutos para aumentar seus próprios salários e mais de mês para o miserável salário mínimo. Segundo dados do Parlamento britânico, cada um dos 650 deputados da Câmara dos Comuns recebe um salário básico equivalente a 5.478 libras por mês (cerca de R$ 14.541). Nos Estados Unidos, deputados e senadores recebem um salário básico equivalente a US$ 14.500 por mês (cerca de R$ 24.700). Os salários dos congressistas brasileiros também ficarão quase seis vezes mais altos do que os de seus pares argentinos. Os deputados do país vizinho ganham um salário básico mensal de 10.600 pesos (cerca de R$ 4.540), enquanto os senadores recebem cerca de 16 mil pesos mensais (R$ 6.850). Um levantamento comparativo preparado pelo Parlamento britânico em 2007 mostra os vencimentos dos congressistas de países como Austrália, Canadá, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Espanha e Suécia. Segundo o levantamento britânico, que incluiu também dados da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, em 2007 os deputados e senadores americanos eram os que tinham os maiores vencimentos entre esses países, seguidos pelos italianos, que tinham salários equivalentes a R$ 22.350 mensais. Na outra ponta, a Espanha tinha os menores salários de parlamentares em 2007 – o equivalente a R$ 6.466 mensais, seguida de Suécia (R$ 9.469) e Noruega (R$ 9.649). Não se pode esquecer que os salários da quase totalidade dos deputados estaduais e vereadores brasileiros são vinculados a um percentual do que ganha o representante federal. O custo calculado representa um adicional anual estimado em R$ 128,7 milhões nas folhas de pagamento das assembléias estaduais e de R$ 1,8 bilhão nas Câmaras municipais. Só o aumento das Câmaras equivale a um sexto do que o governo desembolsa por ano (R$ 13 bilhões) para atender a 12,7 milhões de beneficiários do Bolsa Família, incluindo alguns políticos. Analisado o custo benefício, facilmente constatamos que os nossos parlamentares estão longe por merecer serem os mais bem pagos do mundo. Mas as meninas que os servem bem que merecem, olhe o porte, o corpo, as coxas, pés ou o todo pois agradam de corpo inteiro, não tem congressista que resista.

A falência múltipla dos órgãos públicos

           
         Dirceu Ayres

Os corruptos ajudam-nos a descobrir o País. Há sete anos, Roberto Jefferson nos abriu a cortina do mensalão. Agora, com a dupla personalidade de Demóstenes Torres, descortinamos rios e florestas e a imensa paisagem de Cachoeira. Jefferson teve uma importância ideológica. Cachoeira é uma inovação sociológica. Cachoeira é uma aula magna de ciência política sobre o Sistema do País. Vamos aprender muito com essa crise. É um esplendoroso universo de fatos, de gestos, de caras, de palavras que eclodiram diante de nossos olhos nas últimas semanas. Meu Deus, que riqueza, que profusão de cores e ritmos em nossa consciência política! Que fartura de novidades da sordidez social, tão fecunda quanto a beleza de nossas matas, cachoeiras, várzeas e flores. Roberto Jefferson denunciou os bolchevistas no poder, os corruptos que roubavam por "bons motivos", pelo "bem do povo", na base dos "fins que justificam os meios". E, assim, defenestrou a gangue de netinhos de Lenin que cercavam o Lula que, com sua imensa sorte, se livrou dos mandachuvas que o dominavam. Cachoeira é uma alegoria viva do patrimonialismo, a desgraça secular que devasta a história de nosso País. Sarney também seria "didático", mas nada gruda nele, em seu terno de "teflon"; no entanto, quem estudasse sua vida entenderia o retrato perfeito do atraso brasileiro dos últimos 50 anos. Cachoeira é a verdade brasileira explícita, é o retrato do adultério permanente entre a coisa pública e privada, aperfeiçoado nos últimos dez anos, graças à maior invenção de Lula: a "ingovernabilidade". Cachoeira é um acidente que rompeu a lisa aparência da "normalidade" oficial do País. Sempre soubemos que os negócios entre governo e iniciativa privada vêm envenenados pelas eternas malandragens: invenção de despesas inúteis (como as lanchas do Ministério da Pesca), superfaturamento de compras, divisão de propinas, enfrentamento descarado de flagrantes, porque perder a dignidade vale a pena, se a grana for boa, cabeça erguida negando tudo, uns meses de humilhações ignoradas pelo cinismo e pela confiança de que a Justiça cega, surda e muda vai salvá-los. De resto, com a grana na "cumbuca", as feridas cicatrizam logo. O governo do PT desmoralizou o escândalo e Cachoeira é o monumento que Lula esculpiu. Lula inventou a ingovernabilidade em seu proveito pessoal. Não foi nem por estratégia política por um fim "maior" - foi só para ele. Achávamos a corrupção uma exceção, um pecado, mas hoje vemos que o PT transformou a corrupção em uma forma de governo, em um instrumento de trabalho. A corrupção pública e a privada é muito mais grave e lesiva que o tráfico de drogas.Lula teve a esperteza de usar nossa anomalia secular em projeto de governo. Essa foi a realização mais profunda do governo Lula: o escancaramento didático do patrimonialismo burguês e o desenho de um novo e "peronista" patrimonialismo de Estado. Quando o paladino da moralidade Demóstenes ficou nu, foi uma mão na roda para dezenas de ladrões que moram no Congresso: "Se ele também rouba, vamos usá-lo como um Omo, um sabão em pó para nos lavar, vamos nos esconder atrás dele, vamos expor nosso escândalo por seu comportamento e, assim, seremos esquecidos!" Os maiores assaltantes se horrorizaram, com boquinha de nojo e olhos em alvo: "Meu Deus... como ele pôde fazer isso?..." Usam-no como um oportuno bode expiatório, mas ele é mais um "boi de piranha" tardio, que vai na frente para a boiada se lavar atrás. Demóstenes foi uma isca. O PT inventou a isca e foi o primeiro a mordê-la. "Otimo!" - berrou o famoso estalinista Rui Falcão - "Agora vamos revelar a farsa do mensalão!" - no mesmo tom em que o assassino iraniano disse que não houve holocausto. "Não houve o mensalão; foi a mídia que inventou, porque está comprada pela oposição!" Os neototalitários não desistem da repressão à imprensa democrática... E foi o Lula que estimulou a CPI, mesmo prejudicando o governo de Dilma, que ele usa como faxineira também das performances midiáticas que cometeu em seu governo. Dilma está aborrecida. Ela não concorda que as investigações possam servir para que o Partido se vingue dos meios de comunicação e não quer paralisar o Congresso. Mas Lula não liga. "Ela que se vire..." - ele pensa em seu egoísmo, secretamente, até querendo que ela se dane para ele voltar em 14. Agora, todo mundo está com medo, além da presidente. O PT está receoso - talvez vagamente arrependido. Pode voltar tudo: aloprados, caixas 2 falsas, a volta de Jefferson, Celso Daniel, tantas coisinhas miúdas... A CPI é um poço sem fundo. O PMDB, contra, pois sabe que merda não tem bússola e pode espirrar neles. Vejam o pânico de presidir o Conselho de Ética, conselho que tem membros com graves problema na Justiça. Se bem que é maravilhoso o povo saber que Renan, Juca, Humberto Alves, Gim Argello, Collor serão os "catões", os puros defensores da decência... Não é sublime tudo isso? Nunca antes, em nossa história, alianças tão espúrias tiveram o condão de nos ensinar tanto sobre o Brasil. A cada dia nos tornamos mais sábios, mais cultos sobre essa grande chácara de oligarquias. E eu estou otimista. Acho que tudo que ocorre vai nos ensinar muito. Há qualquer coisa de novo nessa imundície. O mundo atual demanda um pouco mais de decência política. Cachoeira, Jefferson, Durval Barbosa nos ensinam muito. Estamos progredindo, pois aparece mais a secular engrenagem latrinária que funciona abaixo dos esgotos da pátria. A verdade está nos intestinos da política. Mas, o País é tão frágil, tão dependente de acasos, que vivemos com o suspense do julgamento do mensalão pelo STF. Se o ministro Ricardo Lewandowski não terminar sua lenta leitura do processo, nada acontecerá e a Justiça estará desmoralizada para sempre. Arnaldo Jabor FONTE: CADERNO 2 / O ESTADO DE S. PAULO em 17/04/2012 Enviado por Ester Mansur Miglio