sexta-feira, 4 de março de 2011

A MODERNA DITADURA BRASILEIRA

                                      Dirceu Ayres
Se fosse o caso de existir oposição no Brasil, algum oposicionista teria argumentos válidos para criticar os regimes impostos aos cidadãos da Venezuela, de Cuba ou de Mianmar? A resposta é não. O Brasil vive, há mais de oito anos, sob a ditadura dos acovardados, dos corruptos e dos vendidos. Na civilização ocidental, a principal característica das democracias reside na existência de uma oposição organizada, capaz de incomodar os governantes e, mais importante, capaz de ser a trilha para as manifestações de insatisfação daqueles que são representados pelas câmaras legislativas. Estados onde a oposição é fraca, omissa ou conivente nada mais são que ditaduras disfarçadas. Governos que consideram a oposição como inimiga, não passam de tiranos disfarçados. Os exemplos deste tipo de oposição e destes tiranos se repetem na história das nações e, infelizmente, o Brasil não aprende. O vergonhoso congresso nacional brasileiro que, há muito tempo se afastou dos cidadãos, vendeu-se ao executivo, por medo, por interesse pessoal, por fraqueza, por omissão. Os cidadãos brasileiros são reféns. Em conseqüência da conduta dos seus representantes – falsos - vivem, hoje, em plena ditadura, tanto quanto os cubanos e os venezuelanos, cujos representantes se venderam ao tirano do momento. Estamos diante da confirmação de que realmente o uso do cachimbo deixa A boca torta. De fato, a presidente Dilma não consegue esconder o seu cacoete autoritário, por mais que o seu marqueteiro se esmere em vender a imagem de uma presidente simpática e amável. Para retaliar o PDT, que não acompanhou o governo em 100% na votação do salário mínimo, a presidente determinou a exclusão deste partido da reunião que realizou com os líderes da base aliada, para agradecer o apoio que tem recebido de seus parlamentares. Dilma expôs os pedetistas – mais particularmente o seu líder na Câmara, Giovanni Queiroz e o presidente do partido, Carlos Lupi – à humilhação pública. Em vez de utilizar a discrição e chamar a atenção dos pedetistas de que ser governo tem bônus, mas também implica em assumir o ônus, a presidente quis dar uma demonstração de autoridade, agindo à base do “quem não está comigo totalmente, é meu inimigo”, ou será tratado como tal. Na verdade, ela quer que o PDT enquadre o deputado Paulinho, presidente da Força Sindical, um dos principais críticos à proposta do governo para o salário mínimo. A base governista é heterogênea e não é possível acreditar que ela estará sempre 100% ao lado do governo. Há partidos que têm história e compromissos com determinadas teses. No caso do PDT, a questão da valorização do salário mínimo sempre foi uma tese cara, desde quando os trabalhistas estavam unificados na sigla do antigo PTB. Para Brizola, fundador do PDT, esta sempre foi uma questão sobre a qual ele não abria mão, por considerá-la como de princípio. Parlamentares não são soldados submetidos à ordem unida nem podem a ser enquadrados, a ferro e fogo, pelo “centralismo democrático” do Palácio do Planalto. Eles têm questões de consciência e compromisso com seus eleitores. Imaginem o suicídio que Paulinho estaria cometendo, ao se, por acaso acatasse as ordens de Dilma e subisse à Tribuna para defender o salário mínimo de R$ 545! Como ficaria ele diante dos sindicalistas da Força Sindical? Por detrás do castigo que Dilma deu ao PDT, esconde-se uma relação autoritária com o Parlamento e seus membros, onde não é respeitada a autonomia dos partidos e dos parlamentares, em questões que eles consideram como relevantes. No limite, a presidente poderia até advertir os pedetistas que sermos governos tem seu bônus, mas há também o seu ônus. E, se achasse quer fosse o caso poderia até demitir o Ministro Lupi, pois esta é uma prerrogativa sua. O que não está certo é humilhá-los publicamente. Presidir um país é completamente diferente de gerir uma empresa. Com seu estilo “gerentona”, Dilma pode estar criando problemas desnecessários para o seu próprio governo. Na questão do salário mínimo, simplesmente recusou-se em se reunir com as centrais que apoiaram sua candidatura, determinando que eles tratassem do assunto com seus subalternos. Por enquanto, a quase totalidade da base governista tem se submetido ao seu cacoete autoritário. Mas em algum momento a sublevação virá à tona e ela pode amargar derrotas no Congresso, até em função do seu jeito de ser. O Parlamento e os parlamentares são autônomos e só podem ser tratados na base da boa política. Chicote e atropelamento podem dar, às vezes, o efeito contrário. O estilo autoritário de governar não é compatível com a democracia, pois ele inibe e atrofia a autonomia de outros poderes, entre os quais o Legislativo. É dever da oposição combatê-lo e denunciá-lo, antes que a presidente ache que pode tudo e cometa atentados mais graves ao ordenamento democrático.

Nenhum comentário:

Postar um comentário