domingo, 6 de março de 2011

A NOSSA FANTASIA

Dirceu Ayres
Hoje, retiramos do armário a nossa fantasia de palhaço, de fato uma mistura de palhaço com pierrô, traje que alguns poderão, pejorativamente, nominar como de tolo empedernido, outros de trouxa assumido. É antiga. Temos usada a mesma e batida caricatura (?) de palhaço nos últimos oito anos, embora, a cada ano acrescentemos mais um adereço aqui, outro acolá. Assim, para os desconhecidos, ela poderá parecer nova. Infelizmente, nós os palhaços não caímos nas graças do petismo, que dirá do lulismo, e muito menos do continuísmo. Por pura vaidade ou vergonha, nos falta coragem para adentrarmos nas passarelas da folia com as indumentárias que o sindical – petismo - lulista adora. A de “bichonas” ficou ridícula, conforme a nossa veneranda mãe, a de “crioulos”, vergonhosa, segundo a nossa tia lésbica, a de “secundaristas da UNE”, uma blasfêmia, na opinião dos sobrinhos, a de “universitários graças aos questionáveis exames do Enem”, um nojo, foi a sentença de um velho amigo. E assim, por tentativa e erro, fomos procurando uma fantasia mais de acordo com o nosso atual estado de espírito, tudo em vão. Tanto a de “PAC 1” como a de “PAC 2”, cheias de fogos de artifícios, de pompas e circunstâncias foram sumariamente desclassificadas. A de “lavrador do MST”, ignóbil, a de “sindicalista raivoso”, sórdida, a de “assessor sem concurso”, um vexame, a de “escamoteador de dinheiro na cueca”, repugnante, a de “filiado ao PT”, infame, a de “amedalhado pelas autoridades militares” (peito cheio de medalhas), indigna, a de “terrorista convicto” (portando granada e o escambau), repulsiva, a de “político corrupto”, redundante, a de “juiz venal”, desprezível, todas, foram espinafradas com desusado vigor por um grupo, que receamos nem podemos chamar de amigos, pois se negam a endossar nossas simpatias pelo atual (?) e muito menos pelo desgoverno passado (?).
Desarvorados, por sermos incapazes de escolher uma miserável fantasia para gozar dos folguedos de momo, tentamos, como último recurso, a de METAMORFOSE AMBULANTE, visto que, o dito goza da preferência nacional. Não cortamos o dedo mindinho da mão esquerda (poderíamos até ser aposentados), isto tirou a veracidade de nossa indumentária, mas carregávamos uma garrafa de pinga, volta – e - meia trocávamos os passos, riamos às bandeiras despregadas, mentíamos à larga, mas esta derradeira tentativa foi à pior, a vaia correu solta. Quase apanhamos. Inclusive, rasgaram a nossa camiseta de “VIVA O MULLA”. Por tudo, compungidos, voltamos a tirar do armário a velha e rota fantasia. O nariz, aquela bolinha vermelha que alegra a petizada está cada vez maior, as orelhas de burro, também. A novidade é a dentuça postiça uma singela homenagem a nova majestade. Hoje, mais do nunca é preciso cair na gandaia, pois os ventos que sopram anunciam que este poderá ser, na atual quadratura, o último baile da Ilha Fiscal. Depois, é pagar a pesada conta, que ele nos legou por nossa total e inconseqüente falta de caráter. Nóis merece a fantasia de “tolinhos na terra dos vivaldinos”.
Gen. Bda Rfm Valmir Fonseca Azevedo Pereira
Sábado, 5 de março de 2011
Brasília, DF, 05 de março de 2011

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