Dirceu Ayres
O Brasil ao longo de sua existência, ou desde sua Descoberta, se caracterizou como um país pouco afeito à violência na formação de sua sociedade. As poucas rupturas, ou as mudanças de governo, as decisões políticas e até mesmo as ditaduras não tiveram o perfil de catástrofe ou trauma semelhantes ao que aconteceu em outros países. Osvaldo Epifanio lembra que na Europa, por exemplo, houve: “cenário de invasões, extermínios, guerras marcantes para o seu povo. A chamada Guerra Civil Espanhola -- apenas para ficar na ilustração --, foi um conflito entre duas frentes militares, ocorrido na Espanha entre os anos de 1936 e 1939, com a conseqüência da morte de mais de 400 mil espanhóis e uma queda enorme na economia, a queima de vários campos e milhões de moradias destruídas, um abalo financeiro e queda do PIB que demorou quase 30 anos para se normalizar”. Hoje, podemos aquilatar, é um país invejável, que cresce 3,8% ao ano. Não seria por isso – uma população que teve o destino de se livrar de tantas desgraças – que o Brasileiro não tem heróis? Heróis de verdade, como aqueles que transformaram uma época, uma vida; homens e mulheres que escreveram a história e que mudaram o pensamento humano em todo o mundo. Martin Luther King (Em 1963, liderou um movimento massivo, "A Marcha para Washington", pelos direitos civis no Alabama, organizando campanhas por eleitores negros); Giuseppe Garibaldi (1807-1882, principal figura militar e o herói mais popular na época da unificação da Itália que ficou conhecida como RISORGIMENTO. Ele é considerado um dos criadores da Itália Moderna); Ghandi (líder pacifista indiano 1869-1948, principal personalidade da independência da Índia), de frase memorável que atravessa décadas: “A arte da vida consiste em fazer da vida uma obra de arte.”; Winston Churchil (homem de incendiária oratória que permitiu a coesão espiritual do povo britânico nas horas de prova suprema que significaram os bombardeios sistemáticos da Alemanha sobre Londres e outras cidades do Reino Unido). Maximilien de Robespierre, advogado e político francês, uma das personalidades mais importantes da Revolução Francesa. Os seus amigos chamavam-lhe "O Incorruptível". (foi um dos raros defensores do sufrágio universal e da igualdade dos direitos, defendendo a abolição da escravidão e as associações populares). Ele defendia que "A mesma autoridade divina que ordena aos reis serem justos, proíbe aos povos serem escravos". No dia 8 de março de 1857, operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve ocupando a fábrica, como reivindicação pela diminuição da carga horária diária de trabalho, de 16h para 10h. Estas operárias - que recebiam menos de um terço do salário dos homens - foram fechadas na fábrica onde se iniciou um incêndio. Cerca de 130 mulheres morreram queimadas. Em 1903, portanto 46 anos após aquela terrível experiência, mulheres norte-americanas iniciaram o movimento histórico “Pão e Rosas” que mudou por completo o que se pensava sobre elas em todo o mundo. Se somados todos aqueles brasileiros que entraram nos livros didáticos como personagens históricos, ver-se-á um time de sortudos. São descobridores circunstanciais e festeiros (Pedro Álvares Cabral e Diogo Dias). Este, segundo o descobridor, (Fernando da Silva Correia). “Homem gracioso e de prazer, leva consigo um gaiteiro e mete-se a dançar com todo aquele povo, homens e mulheres, tomando-os pelas mãos, com o que eles folgam e riem muito ao som da gaita”. Vejamos aqui outro exemplo: Bandeirantes, aqueles mesmos tão celebrados desbravadores das terras paulistas e mineiras, eram marginais por vocação. ”A partir de 1619, os Bandeirantes intensificaram os ataques contra as reduções jesuíticas, e os artesãos e agricultores guaranis foram escravizados em massa.” (Waldemar de Almeida Barbosa). D. “Pedro I tinha uma vida marcada pela intempestividade, além de uma sexualidade pouco aceita para a época (Don-ruanismo exacerbado), que resultou em graves cisões no governo.” (Bruno da Silva de Cerqueira). Tiradentes, um espertalhão! Se ele quisesse realmente um Brasil melhor teria lutado pela abolição dos escravos, o que não fez, pois era riquíssimo e tinha fazendas e escravos. Incrível como o brasileiro é carente de heróis. Mudou, inclusive, a fisionomia de Joaquim da Silva Xavier: tornou-o uma versão moderna de Jesus Cristo, com barbas, cabelos e vestimentas iguais. Uma farsa. O mais grave é que há contentamento, passividade, aceitação, ou seja, há um sentimento de adoração em torno desses, digamos, acamaradados históricos. Somos todos mentirosos, empedernidos admiradores, satisfeitos com esse show de bestialidade. Historiadores, professores e povo se deleitam em apenas se abastecer do simples enredo dos fatos, pois os heróis permanentes, e não os casuais, nunca existiram. É o caráter simbólico da representação que envolve sempre um apelo a elementos emocionais. Se não existem heróis, não há história. Ou sem história não há heróis? Desejar a morte para garantir a autenticidade e a virilidade seria patético, insano e imensamente... Fúnebre! Mas a dor, definitivamente, não faz parte desse povo carnavalesco. A folia intrínseca brasileira é objeto de desejo de outros povos que, invejosos que são das nossas maledicências, afiam a língua em nos chamar de “bananas” e “tupiniquins”. São os corpos suados e morenos, os bumbuns ardentes em majestosas pernas roliças as grandes vedetes, os nossos heróis nacionais que fazem nascer o orgulho de Macunaíma. Sorte ou azar?
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