segunda-feira, 6 de junho de 2011

PERFEIÇÃO NO AMOR?

                                                                       Dirceu Ayres
Há no amor que se descobre, um encantamento. Cruzaram os olhos e já se amavam. Dois mais dois já eram quatro antes da invenção da aritmética, e os dois já se amavam muito antes de se encontrarem e perceberem isso. Este é o encanto: perceber naquela pessoa, um universo inexplorado, a própria casa. O amor só é amor se for uma forma doce de loucura, se for irracional e incondicional, se for eterno. Fala-se, atualmente, muito “ficar” fala-se também em relacionamento e pouco em amor. Já não há quem se mate por amor. Sim, ninguém jamais matou por amor. Mata-se por ódio e ignorância, e ódio é uma forma doente de querer bem. Mas não é nem o oposto de amor; este seria o desamor. Por amor não é possível matar, mas morrer. Morria-se de tristeza, de dor, da falta do amor, da impossibilidade do amor, da perda do amor. Morria-se de amor porque não se pode viver sem ele, uma vez que seu corpo e alma estão preenchidos e dominados pelo sentimento. Hoje o assunto é relacionamento. É mais importante ter um relacionamento que um amor. O amor, evidente, em uma de suas formas, pode prescindir do relacionamento. Platão deu conta disso. O amor altruísta que torce e ajuda a felicidade do outro sem nunca se impor, sem nunca se oferecer, sem nada esperar. Há o amor pelas coisas, pelos bichos, pelas emoções, mas nada supera o amor que há entre um homem e uma mulher. Ou entre casais de qualquer tipo, posso vislumbrar, uma vez que o desejo é acessório ao amor. A diferença é simples, o amor é inexplicável e não se planta onde se quer, ele nasce e existe alheio aos nossos planos. O relacionamento é fruto do resultado de nossas experiências, em destaque a última: se tivemos alguém que era temperamental fazemos questão de alguém que seja calmo. Isso é apenas um exemplo entre milhões possíveis. O relacionamento é uma forma e não um conteúdo, é um conjunto de regras e de negociações que podem ser positivas ou não. O relacionamento existe quando existe o amor, mas as regras, neste caso, são resolvidas com ética, ou seja, cada um sabe como deve se portar tendo como parâmetro o belo, o ideal, a longevidade e grandeza do amor que o motiva. Relacionamento é a estrutura social. Por isso muitos relacionamentos começam e às vezes acabam sem que o amor lhes faça visita. Ólhe a moça que faz parte dessas escrivinhações, o corpo e a pele, as curvas de seu corpo escultural e a cor da pele que cobre seu templo chamado corpo. Procure ser compreensivo e observar as boas qualidades, esteja com a pessoa e: Estar com alguém é aprender algo sobre o amor, mesmo quando não seja amor. É educação sentimental. É quando a pessoa ensaia, se prepara para o que pode vir. É triste admitir, mas podemos passar uma vida sem que a flecha do cupido nos acerte. A flecha o acha se você estiver na sua. Mas pode não achar. Ainda assim valerá ter se preparado para ele como quem se arruma para uma festa. Muito melhor do que passar a vida sem nem sonhar com o amor. Mas, voltando ao início, há no amor um encantamento. Sim, há diferenças. E dar um voto especial, amoroso e indefeso, de confiança quando o outro está aparentemente errado é fundamental..Vencer é muito mais difícil que perder. Cansa mais e dá mais trabalho. Ser feliz é muito mais cansativo do que ser triste! E é esquisito, uma vez que relacionamentos difíceis e infelicidade moderada é a condição, o estado basal de quem não tem um verdadeiro amor.

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