quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Orlando Silva é mau professor de jornalismo, mas o jornalismo sério pode lhe dar aula sobre a diferença entre dinheiro público e dinheiro privado

                Dirceu Ayres 
Poucas coisas são tão constrangedoras quanto a indignação a favor. Há pouco, as deputadas Perpétua Almeida (AC) e Alice Portugal (BA), ambas do PCdoB, fizeram discursos inflamados em defesa de Orlando Silva e contra o PM João Dias Ferreira, que era um “camarada” de partido até outro dia — foi candidato a deputado… A sessão virou uma patuscada de elogios e auto-elogios. Representantes da oposição compareceram apenas para defender a necessidade de uma CPI e para pedir a convocação de Ferreira e se retiraram em seguida. Como os governistas não tinham dúvidas sobre coisa nenhuma, o ministro não precisou explicar coisa nenhuma. Assistimos a uma sessão de exorcismo e descarrego. Os “inimigos” do “socialismo” do PCdoB (rá, rá, rá) foram ali esconjurados e pronto! Ao fim de tudo, Orlando Silva ainda teve tempo de se comportar como ombudsman da VEJA, lamentando a reportagem. Entendo! Ele acha que um membro de seu partido, ligado a entidades que mantinham estreitas relações com a sua pasta e que foi recebido por ele próprio em audiência, ao fazer uma denúncia, deve ser ignorado. O que dizer? Bem, acho que a revista tem se mostrado bem mais eficiente no jornalismo, em mais de quatro décadas, do que Orlando Silva como ministro de Esporte em pouco mais de cinco anos. O mais curioso nesse clima de “indignação” de Silva e de seus aliados é que a gente fica com a impressão de que o Ministério do Esporte se assemelha a um convento (do tipo sério, claro…). Ora, a própria VEJA relatou as lambanças na pasta em 2008. O Estadão trouxe mais e novas evidências no fim de 2010 e início de 2011. Os jornais de hoje estão coalhados de sem-vergonhices para todos os gostos. E qual é o mote? “Mandamos apurar tudo!” Certo! Mandaram apurar tudo! Mas as falcatruas, não obstante, continuam. No Estadão de hoje, por exemplo, ficamos sabendo que o Ministério do Esporte — sim, a pasta comandada por Orlando Silva — anunciou neste ano que não mais renovaria o convênio com a entidade Pra Frente Brasil, da ex-jogadora de basquete Karina Rodrigues, mas autorizou a ONG a captar quase R$ 3 milhões por meio da Lei de Incentivo ao Esporte. Vênia máxima, acho que esses indignados a favor precisam de um pouco mais de vergonha na cara. Karina é vereadora do PCdoB. Eventos de sua ONG são prestigiados por Orlando Silva. Esta senhora conseguiu receber, ao longo de sete anos, R$ 28 milhões do programa Segundo Tempo. Em meros três, acusou um gasto de R$ 10 milhões só com lanchinhos para as crianças. A empresa que fornece os alimentos pertence a um sujeito que, sem saber que estava sendo gravado, admitiu trabalhar para a “comunista do Brasil”, que é argentina. O que isso evidencia? Que a “severidade” do ministério com ONGs suspeitas não é para valer. O caso da Pra Frente Brasil o evidencia. Não recebeu dinheiro de um programa, mas acabou se beneficiando com outro. Orlando Silva é péssimo professor de jornalismo, mas o jornalismo brasileiro, ao menos parte dele, pode, sim, lhe dar aulas sobre a diferença entre o dinheiro público e o dinheiro privado. Por Reinaldo Azevedo

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