quinta-feira, 10 de maio de 2012

A SÊDE



     Dirceu Ayres

O viajante prosseguia sua caminhada em busca da cidadezinha onde efetuaria seus trabalhos com as encomendas que iria mandar da Fábrica quando ele entregasse os pedidos. Estava o viajante morrendo de sede, perdido no meio da estrada, com um sol escaldante queimando sua cabeça, seu carro havia quebrado e ele havia abandonado, quando de repente viu uma casinha de taipa. Imediatamente chamou a porta da casa, bateu palmas e logo apareceu um garotinho mulato, barrigudo e de olhos remelentos. - Você poderia me arranjar um copo com água?, Preciso beber água ou algum líquido urgente, pois minha garganta está queimando. Falou - o viajante. - Poderia sim, senhor! Respondeu o garoto muito solícito. Então, o menino desaparece para dentro da casa e logo volta com uma cuia preta com água que entrega ao viajante. O viajante olha meio enojado para a cuia preta, fecha os olhos e o nariz, bebe tudo num gole lento, sorvendo o líquido que naquele momento era um milagre. - O senhor achou muito ruim? – perguntou o menino. - não, por quê? Perguntou o homem que já estava ficando desconfiado do jeito do menino. - É que tinha um rato morto dentro do pote! E eu não pude tirar. - Seu filho de uma égua! - esbravejou o viajante muito furioso. - Na hora que eu te pegar, quebro essa desgraçada cuia na sua cabeça! - Faz isso não, moço, que essa cuia é da minha mãe urinar dentro! E se o senhor não gostou da água, tudo bem, mas não quebre a cuia não, porque pode ser que o meu Pai não goste e vá atrás do senhor e corte o seu “peru” Pois é o que ele sempre faz quando está com raiva. O viajante procurava se controlar respirava devagarzinho e procurava um lugar com um pouco de sombra para arrumar os pensamentos. De repente uma mão magra foi posta em seu ombro, - senhor está se sentindo bem? O viajante se virou e viu uma velha senhora bem magra tão magra que era possível ver seus ossos através de seu transparente vestido de chita. Tinha um seio para baixo o outro para cima, grandes e moles, completamente desdentada, cabelos desgrenhados cheirando a bebida barata e ruim, um pedaço de cigarro com palha de milho jazia no canto da boca e para completar o quadro, duas pernas finas e brancas com muita poeira cobrindo os ossos. Da boca, saia uma baba gosmenta e constante junto com a fumaça do cigarro. O viajante como se fora mordido por um cachorro doido, disparou a correr pela estrada e não parou até chegar à cidade que prá sua sorte era a mesma cidade que ele vinha procurando.

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