quarta-feira, 6 de junho de 2012

SOMOS TODOS SUSPEITOS


  Dirceu Ayres

Somos todos suspeitos. O Estado que mais prega a cidadania (da boca pra fora) é o que mais nos trata como bandidos. Somos todos olhados com desconfiança. Os critérios de aferição de nosso banditismo são arbitrariamente legais. Nessa última versão, basta dirigir um veículo. Não é preciso demonstrar que o estamos fazendo irregularmente. Você pode nem estar bêbado, mas se a polícia o interceptar e implicar você é que terá que provar que é inocente. O ato de soprar num bafômetro, (ora, com isso um Advogado logo diria que): “Inverte-se o ônus da prova”. Você é um suspeito mesmo sem causa e para se livrar da mão de ferro do Estado, só se submetendo às exigências do Policial que o representa. Você é que precisa provar que está lúcido e bastante bom das pernas, (sem bebida) não, não é certo, ele (o Policial), que precisa provar que você está embriagado. Sou a favor da prisão em flagrante do motorista bêbado. Mais: que ele, independentemente de fiança, só possa ser liberado após estar curado da bebedeira. Sua habilitação para dirigir veículos deveria ser cassada imediatamente pelo prazo mínimo de um ano, da primeira vez. Na segunda, haveria agravamento da pena, e assim por diante. Mas seria importantíssimo ele ser julgado na hora, por juízes designados em varas especialmente destinadas a essa finalidade, com direito a advogado e à ampla defesa, como se vê até em filmes americanos – é um bom exemplo que posso arrumar de improviso. Caso contrário, da forma como as coisas estão sendo conduzidas, logo essas atividades policiais condenatórias cairão no vazio, fulminadas por acertadas decisões judiciais. Não gosto de radicalizações porque elas são socialmente doentias. E o que vemos, com essa nova lei e com essa truculência governamental e policial é exatamente isto. Com tantos criminosos reais à solta, com tantos roubos, assaltos, furtos, estupros, assassinatos, brigas, badernas, gangues, é um luxo mobilizar a força policial para prender motoristas que, na grande maioria dos casos, não são bandidos em sentido estrito, embora em sentido lato assim sejam considerados. Um dos crimes de trânsito mais bárbaros dos últimos tempos foi o daqueles larápios que, em fevereiro de 2007, assaltaram uma mãe e seu filho de sete anos e não deram tempo a que este se livrasse do cinto de segurança e o arrastaram por vários kilômetros. O condutor não estava embriagado ou, pelo menos, ninguém o cogitou. Possivelmente estaria drogado, mas a nova truculência legal não se ocupa disto, apenas da embriaguês alcoólica. Atentem para a notícia: em 3 noites, A PM detém vários motoristas flagrados pelo bafômetro em SP. A reportagem não esclarece quantos estariam embriagados porque isto não interessa à imprensa. Mas se a polícia se dedicasse, nessas três noites, a caçar bandidos, ladrões e assaltantes, certamente prenderia muito mais. Inclusive os que se encorajam com outras drogas para praticar seus roubos, assaltos e seqüestros relâmpagos. Policiais precisam ter mais cuidado, Bandidos reagem; motoristas suspeitos são dóceis, aceitam sua inocência com certa dose de culpa por serem inocentes, exatamente como convém a todos os que estão jogando areia nos nossos olhos. Nesse ínterim... Somos Bois de Piranha. Enquanto, para efeitos publicitários, a Polícia em todo o Brasil demonstra organização, qualidade e atuação, dando a impressão de que o crime está sendo combatido.

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