Dirceu Ayres
Sem dono, nem quem a reclame, a fortuna dos aloprados do PT vai para a União. A ordem é da Justiça Federal. Vão ingressar nos cofres do Tesouro US$ 248,8 mil e R$ 1,168 milhão. Em decisão de duas páginas, o juiz Paulo Cézar Alves Sodré, da 7.ª Vara Criminal Federal em Cuiabá (MT), assinalou: "Até a presente data não houve qualquer pedido de restituição de tais valores, ressaltando-se que durante a tramitação do inquérito policial ninguém assumiu a responsabilidade do bem em questão". Faz quase seis anos o capítulo dos aloprados. A montanha de dinheiro em espécie foi apreendida pela Polícia Federal na madrugada de 15 de setembro de 2006 de posse de homens do núcleo de inteligência do PT. Planejavam comprar o dossiê Vedoin - família de Mato Grosso que teria reunido denúncias falsas contra José Serra, então candidato do PSDB ao governo de São Paulo. Uma parte da bolada - R$ 758 mil e US$ 109,8 mil - foi encontrada com o engenheiro Valdebran Carlos Padilha da Silva, ligado ao PT de Cuiabá. Outra parte - R$410 mil e US$ 139 mil - estava em poder de Gedimar Passos, agente aposentado da PF. "Não há óbice em dar-se a perda de tal quantia, já que decorrido quase seis anos da apreensão, sem que qualquer pessoa reclamasse a devolução ou comprovasse cabalmente sua propriedade e origem lícita", sentenciou o juiz, que acolheu requerimento da Procuradoria da República. Sodré ressalta que "tendo em vista que dinheiro é bem fungível, caso futuramente alguém comprove sua propriedade, a decisão de seu perdimento não impedirá que a quantia seja reclamada da União nas vias adequadas para tanto". "Caso não haja qualquer manifestação em 90 dias convertam-se tais valores em renda em favor da União", decretou. Após o decurso desse prazo o Banco Central vai fazer a conversão da moeda americana e a Caixa Econômica Federal informar o valor atualizado em reais depositados na instituição. Ele mandou publicar sua decisão para conhecimento de eventuais terceiros interessados e dar ciência à Advocacia-Geral da União. Origem. A PF rastreou a origem de apenas parcela da bolada misteriosa. A Divisão de Combate ao Crime Organizado pediu ao governo dos EUA informações acerca da instituição bancária no Brasil que havia recebido aquele lote específico de dólares. O Departamento de Justiça americano apurou que o dinheiro teve origem na Flórida, enviado ao Commerzbank da Alemanha em 14 de agosto de 2006 e, dois dias depois, remetido ao Banco Sofisa S/A, em São Paulo. Em cooperação internacional, o Federal Bureau of Investigation dos EUA (FBI) e a PF constataram que a parte seriada de US$ 248,8 mil integrava lote de US$ 15 milhões. A PF chegou aos sacadores finais. A análise financeira, efetuada por peritos criminais federais, revelou que pelo menos os dólares recolhidos com Gedimar e Valdebran haviam sido adquiridos em operação de compra na Vicatur Câmbio e Turismo Ltda, de Nova Iguaçu (RJ), em várias operações com utilização de laranjas. (Estadão)
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