sábado, 6 de abril de 2013

ESTOU MUITO PERDIDO




    Dirceu Ayres

Estou tão perdido que nem sei se posso me considerar normal. Parte desse meu saber, ao certo, o que isto significa. Vejo tantos normais dizendo e fazendo tantas confusões e provocada exatamente pelo fato de me considerar normal sem besteiras com tanta certeza – acho que estou parodiando Fernando Pessoa que nem mais ao certo sei o que sou. Estou sentindo saudades do tempo do primário, em que eu era magro, loiro, de olhos verdes e sem sarda, era motivo de gozação dos colegas, pois tinha problema com um saldo de paralisia infantil. Não tinha como reagir. Se eu fosse mulher teria, ainda, direito a cota especial nas eleições... Bastaria me inscrever em um partido e pleitear inscrição como candidato com base nos 20% criados para elas. Estou desconversando. Sou homem e não há uma Delegacia especial que me atenda, ou melhor; que atenda nenhum homem em caso de uma agressão feminina. Ainda bem que nunca apanhei de nenhuma mulher Também perdi o gosto para ler sobre política e as cotas da reserva. Se eu fosse negro teria, também minha cota, se tudo desse certo, talvez alguma vantagem para ingresso na faculdade. O Ministério da Educação parece que vai impor cotas para ingresso de negros e índios nas faculdades mesmo que eles não se classifiquem tão bem quanto um branco. Não existe discriminação contra essa gente. Bem, do alto dos meus setenta anos orgulhosos e bem vividos, já não estou catando nem mulheres, nem vagas nas faculdades, seja lá para que qualidade de curso for. Na verdade o que mais me apetece no momento é terminar meus dias de vida (se me resta algum) lendo, escrevendo meus rabiscos, fazendo versos que tenho a coragem de chamar de Poema e até de Literatura de cordel. Agora imaginem se eu fosse da verdade um escritor habilidoso ou um Poeta, seria assim:

Quem me dera que eu fosse um poeta
Que dons perolados se aflorasse
Com forma, forte, fina eu ficasse,
Perfeitamente forte e com estética.
Seria como se em mim germinasse
Orquídeas fechadas, herméticas.
Criaria Poesias não patéticas,
Versos que com amor eu dominasse.

Que verso que eu fizesse fosse lindo
E que a posteridade que o herdasse
Decorasse, amassasse e recitasse!
De um modo sutil e nunca findo.
Que grandes Vates quando lessem
De pronto, logo os decorassem!
Não importa o tempo que levassem
Importante que jamais os esquecessem.

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