quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

VELHICE CHEGANDO

Quando você completa quarenta anos e constata que, daí por diante, cada ano vivido será em década com final enta: cinqüenta, sessenta, setenta e, com boa sorte, oitenta e noventa. Quando você se esmera preparando aquela viagem de férias e percebe que seus filhos não são mais crianças porque preferem ficar em casa e curtir a companhia dos amigos. Mas depois telefonam, às vezes de hora em hora, para saber como se cozinha um ovo.  O do ovo telefona depois reclamando que o mesmo está na água fervente há mais de meia hora e a casca ainda não amoleceu... Quando você precisa convencer seus filhos de que na sua juventude havia domingueiras ou matinês dançantes, explicar que eram aos domingos à tarde, e eles acham um absurdo porque se dançava de dia. Pior: não consegue convencê-los porque está naquela idade em que os filhos não acreditam mais nos pais. Quando você vê um FORD GALAXIE parecido com o que teve há muito tempo e o acha feio, com linhas desgraciosas e retas, as lanterninhas traseiras quadradas e toscas, e lembra que quando adquiriu o seu ele era um carro lindíssimo e elegante além de caro, seu mais caro objeto de desejo. Quando você participa de um encontro com antigos colegas de trabalho, e observa que a maioria deles já com cabelos brancos e separados de seus cônjuges da época. Um deles, só porque você não está um velho gagá, insiste em voz alta que você pinta os cabelos, ou usa peruca. Não vou adentrar na análise das personalidades que por vezes são até distorcidas nem tentar antecipar a minha opinião. Já aprendi que os políticos como alguns deles são como mala de mascate e dela pode sair tanto a cobra anunciada quanto apenas elixires como o Bálsamo Alemão que passa qualquer dor, ou óleo de cobra que também serve para reumatismo, ejaculação precoce, falta de ereção e são coisas boas (pomadas) que curam de tudo, desde unha encravada até picada de cobra mesmo ou escorpião. Além disto, temo que a discussão não seja tão somente inútil, mas apaixonada. Faz tempo que o senso do comum e do justo está sofrendo ameaças emocionais e emocionadas que procuram amoitar os fatos. Sem contar os que o chamam de tarado por viver ainda com a primeira mulher. Quando você chega numa cidade pequena, como Maceió, onde viveu durante quase toda sua vida, Alguns rostos enrugados, velhos, com cabelos brancos, lhe parecem familiares, mas você não se lembra de quem são. Dá vontade de chorar! Quando você repara, num aglomerado de pessoas, uma amiga que não via há mais ou menos vinte anos, vai cumprimentá-la, possivelmente abraçá-la, e descobre surpreso e vexado, que, na verdade, se trata de uma filha dela. Quando a casa em que mora, que você se queixava que sempre foi pequena demais, se torna imensa porque os filhos casaram, foram morar longe, deixando-a vazia, apenas com um casal de pais – sou bondoso comigo mesmo e não vou dizer casal de velhos.
Como se tudo isso não bastasse, ainda temos de tolerar essa gente que vive dizendo que após os quarenta é que chega a melhor idade. Veremos quando esses alardeadores e defensores dessa idéia maluca chegar aos cinqüenta, ou aos sessenta, até mais anos, veremos o que eles terão a dizer da falta de força, reumatismo, bursite e muito mais.

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