terça-feira, 24 de maio de 2011

A GRANDE SÃO PAULO


  Dirceu Ayres
Sempre tem algum amigo que me pergunta: "O que há de tão bom em São Paulo, tu sabes?" E eu digo que em São Paulo o que mais existe é na verdade um tremendo engodo e muita gente sabida. É lá que acontecem as coisas mais improváveis do planeta. Eu achei que já havia visto muito e de tudo nessa vida, quando certa vez presenciei uma moradora de rua completamente nua tomando banho com a água de uma lata enferrujada, em plena praça pública. Ela até passava um sabonetinho na Perereca. Pobre na rua, mas, muito higiênica. Depois eu vi um sujeito preto só de sunga amarela com elástico, meias e sapatos de couro preto caminhando tranqüilamente pela cidade em uma das mais geladas tardes de inverno. Estava tão arrepiado com o friozinho que fazia que a pele do negrão estava parecendo uma folha de lixa. Eu sempre recusava quando me chamavam para comer feijoada em algum lugar de São Paulo, andava sempre desconfiado com a onda de assalto que existe por lá. Más, arroz, feijão preto com lingüiça, costelinha de porco, couve na manteiga, farinha de mandioca, molho de pimenta, uma laranja para ajudar na digestão e torresmo. Só lembrar dessas coisas, enche a boca de água. Depois se acrescenta orelha de porco, a rabada que antes foi ao fogo para dar uma torradinha e antes de tudo tomar um gole de cachaça.. Uáu é prá lascar a tábua do meio. Puxa que delícia mais incrível, pensou comigo mesmo. Más São Paulo, a cidade mesmo em minha opinião é um tremendo desgaste, parece que sempre investimos as avessas nas coisas e até nas amizades. Amizade, parece palavrão, como é difícil arranjar um amigo bom e sincero em São Paulo. As pessoas daqui sempre se dizem Diplomadas ou entendidas em tudo. Um amigo precisou fazer um regime e a Médica recomendou uma dieta super balanceada e saudável, bem recomendada por renomados nutricionistas. Dietazinha desgraçada nunca ajudou em nada. Certo dia foi passear no parque e me deparei com uma velhota conduzindo uma galinha de estimação em uma coleira. A maluca até beijava aquela galinha ruiva, meio depenada e fedida. Sem comentários sobre um amigo que cria um urubu no quintal de casa. Mas eu sempre digo: São Paulo é surpreendente e surpreende a gente a cada dia, em cada esquina, basta estar bem atento. Pessoas caminhando por todos os lados, cruzam desordenadamente a pista da Avenida. E um velhinho, supostamente bêbado, carregando uma caixa enorme e mais uma meia dúzia de sacolas titubeia para não ser atropelado mas, perde o equilíbrio e derruba uma das sacolas na via expressa. O taxista freou á tempo mas, o velho se descontrola e joga duas das sacolas com pedaços de carne no pára-brisa do veículo. O aspecto do táxi branco está lastimável, parece que aquele homem-bomba estava dando sua última cartada. E ao parar em um semáforo, são inúmeras as pessoas que olham atônitas para o motorista retirando aqueles fragmentos de carne ensangüentada do capô do carro. E quando liga o limpador de pára-brisas. Uma bisteca grudada em uma das palhetas espalha manchas de gordura e sangue no vidro. Más lembrando que se observar que a felicidade é você mesmo quem faz, depende de cada pessoa viver bem em qualquer lugar, mesmo em São Paulo. Com ou sem uma boa copanhia bem nova, perfumada, bem vestida, dentes perfeitos e sabendo amar, nem vou lembrar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário