quinta-feira, 9 de junho de 2011

AS ESTÓRIAS DA CLEUZA

Dirceu Ayres

Amo Maceió. Adoro o bairro do Farol onde vivo. Aqui eu conheço de tudo, o que presta e o que não presta. Mas de certo modo até gosto disto porque, o que não presta, acaba por estar muito evidente. As pessoas que conheço aqui no bairro são aquelas que trabalham onde costumo fazer compras; são simpáticas e estabelece-se aquela relação de “não sei o teu nome mas te conheço de vista porque acabamos por nos esbarrar freqüentemente”. Além destas pessoas, conheço também de vista os bêbados das esquinas, que cismam que me conhecem mais do que apenas de vista. Dia desses estava no supermercado e um dos bêbados dos barzinhos próximos estava lá; ele apareceu assim de repente no meio de uma prateleira e com o sorriso mais aberto me disse: “olá, Cristina!” Sei que, se alguém estivesse perto, de seguida me perguntaria quando foi que comecei a ser chamada com o nome de Cristina, ou se Cristina não será talvez o meu nome verdadeiro, mas a verdade é que eu não faço a mínima idéia de onde que ele foi tirar que o meu nome é Cristina! Entretanto, coitado, como ele me cumprimentou com tanta alegria, e como ele já estava tão bêbado, não quis contrariá-lo e, por pura educação, respondi ao cumprimento sem corrigi-lo, apesar de ele ter me chamado pelo nome errado. Agora também conheço um dos mendigos oficiais do bairro. Eu já o conhecia, porque o vejo praticamente todos os dias quando tenho que fazer algo na rua, mas não vou muito com a cara dele. É que já vi pedir esmola algumas vezes, e já vi ele se exaltar com alguns velhotes que se recusaram a dar gorjeta ou que resolveram perguntar por qual motivo que ele, um rapaz tão jovem, não trabalhava. Ninguém é obrigado a dar esmola, mas acho que ele ainda não sabe disso. Agora mesmo estava voltando do supermercado e, pelo canto dos óculos escuros, vejo que o mendigo me vê e começa a andar na minha direção. Fingindo que não o tinha visto, comecei a apressar o passo, porque tudo o que não queria era começar o dia tendo que discutir com alguém sem educação como ele. Como eu começo a andar rápido, ele começa a gritar “olha, olha, olhaaaaaaa”, e eu continuo andando do mesmo jeito, com meus óculos escuros no rosto, sem nem olhar para os lados. Quando viu que já não conseguia me alcançar, ele gritou: «Achas que és mesmo boa!», e eu só não morri de rir com a afirmação do mendigo porque, afinal, eu tinha que fingir que não sabia que era comigo que ele estava falando… Mas não é só aqui que temos de aturar toda sorte de Psicopatas, bêbados, arrogantes e furões de toda laias. É continuar ignorando para ir vivendo melhor, caso contrário vai dar briga. Esperar chegar a hora de encontrar meu amor, ir para um bom Motel procurar esquecer os bêbados e os inconvenientes que existem em todos os bairros e cidades. Só pensar em amar, amar e amar, me dar por inteiro ao meu homem, ficar satisfeita e abastecida e ele também.

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