sexta-feira, 10 de junho de 2011

OS SEGREDOS DA CLEUZA

                                                             Dirceu Ayres
Sou uma garota de programa, apesar de usar habitualmente a definição "Garota de Programa” ou “amante deliciosa” rameira, mulher da noite, meretriz, quenga, menina de convívio e até Puta. São muitos nomes para a mesma função: Porque, na realidade, uma mulher que trabalha com sexo não trabalha apenas com sexo. Já fui "apenas prostituta ou Puta" quando trabalhei em boîtes, onde fui treinada para isso. Na minha concepção, relacionada com esse "aprendizado da noite" ser prostituta se resume em receber a massa e abrir as pernas. E é óbvio que mesmo em boîtes nos preocupávamos razoavelmente com o atendimento, porque, quanto melhor, mais vezes o cliente vem ter conosco, o que significam muitos cifrões a mais no nosso bolso. Entretanto, em boîte nunca foi tarefa fácil deixar de ser "apenas prostituta" devido à superficialidade de todo o ambiente. Em primeiro lugar porque somos "empregadas" que ali servem de montra para trazer clientela e mantê-las. Em segundo lugar por causa do tempo, sempre contado, e da pressão sofrida. Em terceiro lugar porque em boîtes muitos já chegam com os copos, ou muitos já com aquela ideia única de prazer rápido, fácil e o quanto mais artificial possível, apesar de muitos acreditarem piamente que aquilo foi o melhor que há. Em quarto lugar eu citaria que em boîtes, especificamente em "boîtes de sobe e desce", temos que estar sempre espertas e ágeis, para atender o maior número de clientes possíveis, porque aprendemos a não contar com o amanhã e, se a noite está boa, ou seja, lucrativa, é essa noite que devemos explorar ao máximo. Em quinto lugar cito o quanto somos meramente descartáveis, assim como são os clientes. Eles vão e vêm, e nós também. Por esses e outros motivos, em boîtes era sempre esse escancaramento real e convincente: ali sou um objecto de prazer, enquanto o homem é um objecto para eu chegar onde quero, financeiramente falando. Existem excepções, como tudo na vida. Existiram bons clientes de boîte e até existiram boas boîtes, o que não anula a minha opinião geral anterior. Foi então que passado algum tempo resolvi trabalhar como "free-lancer" e impor as minhas próprias regras. Deixei de ser "apenas prostituta" para ser "Garota de Programa”. Ser "Garota de Programa é ser Puta” envolve todo um trabalho terapêutico, que por acaso envolve sexo - não tão por acaso assim como eu poderia expor - e que consiste em muito mais do que uma simples equação geométrica para saber o quanto deverei abrir as pernas. Envolve carinho e principalmente respeito pelo homem enquanto ser humano, suas carências, suas fragilidades, seus desejos, sua fortaleza contida e suas limitações. Entre quatro paredes, pelo menos por alguns instantes, na minha cama que também serve de divã, um cliente se torna um homem livre. Mas aí eu volto a bater na mesma tecla e repito que isso também depende muito do que ambos querem. Se temos ideias opostas ou paralelas, não vai funcionar tão bem o quanto seria suposto. Ou funcionará, mas eu serei então "apenas A Puta”, que abre as pernas depois de receber a massa e, se estiver de bom humor, ainda fingirei um orgasmo melhor que qualquer atriz porno, com direito a contração vaginal. Por isso digo tanto que a vida é um reflexo, e somos para as pessoas o que elas são para nós. Como eu cheguei até aqui é uma longa história, que talvez um dia eu conte. Agora eu poderia terminar esse post dizendo que no fundo eu sou uma garota comum como todas as outras. Mas eu não sou uma pessoa comum e me recuso a esse rótulo - como me recuso a muitos outros que as pessoas impõem sem conhecimento de causa. Assim como a maioria das pessoas, eu também já tive ideias pré-formuladas sobre a prostituição antes de fazer parte dela. Existem coisas na vida que a gente só sabe realmente quando sente na própria pele.Tenho os meus pontos fortes e as minhas debilidades como todas as pessoas - inclusive as pessoas comuns - têm, mas cada um tem as suas peculiaridades que faz com que sejam diferentes. Algo que uma garota de programa vai aprendendo com o tempo é explorar os seus pontos fortes, sejam eles um busto muito grande, a idade ou mesmo uma especialidade no campo sexual. Dessa forma, ela atrai aqueles que procuram-na devido aos seus tais fatores peculiares. O meu ponto forte, segundo meus clientes - a seguir aos meus seios sem silicone que sempre elogiam, ou a Gruta de amor broche que faz alguns delirarem é limpa e o capim está sempre aparado - é a minha postura, meiga e atenciosa. A diferença entre ser uma amante e uma amante profissional é, além do dinheiro adiantado, o envolvimento. Quando um homem tem uma amante, logo preocupa-se com esta, que pode se apaixonar e estragar sua vida, ou nas complicações com os infindáveis telefonemas. Como "amante profissional", nunca ligo para um cliente - palavra essa que não uso para defini-los - a não ser que sejam livres e tenham me instruído que posso fazê-lo. Sou uma espécie de "amante para os seus tempos livres". Me pagam por um tempo em que vão desfrutar da minha companhia - e não só - sem maiores envolvimentos. Com isso - e mais uma vez digo que sempre existem excepções - é muito comum eu dizer que meus clientes são muito meigos e simpáticos comigo. É o reflexo. Ele não sente que está pagando por sexo. Ele está pagando por relax. E se ele é bom de cama, sabe sexo oral, tato faz como gosta de fazer e gosta também de sexo anal... É completo e eu adoro, sempre que puder será todo meu e nesse momente podemos ir a lua sem auxilio da NASA.

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