quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Lula retira apoio ao ministro do Esporte e, mais uma vez, diz que "não sabia".

         Dirceu Ayres
Depois de comandar uma campanha de bastidor pela permanência de Orlando Silva à frente do Ministério do Esporte e de pedir ao PC do B que resistisse às pressões para abandonar o posto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou o discurso, passou a criticar o partido e o ministro e admitiu que o desfecho da crise "está em aberto". Em conversa com um correligionário ontem, Lula confessou que está preocupado e desabafou: "Não tenho mais convicção de nada. Esses caras não me falam a verdade". Também foi este o tom do encontro reservado com sua sucessora Dilma Rousseff. O convite da presidente, ele a acompanhou na viagem de Brasília a Manaus para a inauguração da Ponte do Rio Negro ontem. Segundo um dos interlocutores do ex-presidente, o tema da conversa foi a situação de Orlando. Diante de mais uma notícia de fraude em programa do ministério, conforme notícias publicadas ontem pelo Estado, Lula reclamou dos dirigentes do PC do B que não lhe contam a história por inteiro. A mais de um interlocutor, ele admitiu ter sido surpreendido pelas denúncias e pela seqüência de suspeitas levantadas. E não escondeu o incômodo causado pela situação. Nessas conversas, Lula deixou claro que está "muito preocupado", e que não tem convicção formada sobre as denúncias, "nem para o bem, nem para o mal". Sua única certeza é a de que ele não vem recebendo as informações por completo. "Só me contam o que interessa. O que não interessa, eu fico sabendo pelos jornais", queixou-se. Durante as 2 horas e 40 minutos de voo até a capital amazonense, Lula e Dilma fecharam-se na área reservada do avião presidencial para tratar da crise que envolve o ministério do Esporte. A comitiva da presidente, que incluiu o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RO), e o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, mal viu Dilma e Lula a bordo. Diferentemente do habitual, a presidente dedicou todo o seu tempo e sua atenção a Lula, e não conversou com nenhum dos ministros convidados a acompanhá-la. Mesmo depois de o avião aterrissar, a comitiva que a aguardava no aeroporto, incluindo o governador Omar Aziz (PSD), ainda teve que esperar cerca de 20 minutos, até que o encontro reservado terminasse. Integrantes da comitiva presidencial que acompanharam Lula e Dilma na inauguração da ponte Rio Negro dizem que ambos procuraram disfarçar o clima tenso da conversa. Mas os que conhecem bem o ex-presidente dizem que encontraram um Lula bem mais sério do que o normal, e abatido por conta dos problemas no Esporte. Ele confessou não saber mais o que é real e o que é jogo político na crise com o PC do B. Deixou a impressão de que fatos novos contra o ministro na imprensa acabam tornando sua situação insustentável. Lula avalia que o problema vai muito além da denúncia de corrupção no governo e que a crise é política. O que difere esta crise das anteriores que envolveram denúncia de corrupção no governo é precisamente o PC do B. Afinal, os demais partidos, como o PMDB de Wagner Rossi, e o PR de Alfredo Nascimento, têm divisões internas, enquanto os comunistas integram um partido monolítico. Além disso, Lula não tem o PC do B na conta de uma legenda aliada, mas de um parceiro de projeto de poder, o que dificulta ainda mais o descarte de um ministro da sigla. ( Do Estadão)

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