terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O velho tucano e seus filhotes.


                     

      Dirceu Ayres

É impressionante. Agora uma parte do tucanato prega a renovação dos quadros partidários por intermédio de prévias kamikase. Preferem perder a cidade de São Paulo em nome de um rejuvenescimento por meio de lideranças inexpressivas (eleitoralmente), evocando a força de uma militância que não reúne 100 pessoas para protestar contra um "golpe" em si mesma. Tudo isso para destruir José Serra por tabela, em função de um indicador absolutamente irrelevante: a sua idade. Tudo isso para abrir espaço matando o único nome que pode derrotar o PT em 2014, com remotissimas chances, diga-se de passagem. Vejam o paradoxo. Estes mesmos tucanos reverenciam e dobram a espinha para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que recentemente completou 80 anos em meio a uma festa cujo mote foi a recuperação do seu "legado", que não teria sido defendido e teria sido a principal causa das derrotas amargadas contra o PT. A partir daí, cada palavra dele, que por sinal mais trouxeram danos do que consertaram as quebraduras causadas no passado, viraram norte, rumo, indicativo de modernidade. Santo Deus! É bom que se registre que nunca na história deste país alguém esqueceu que FHC criou o real, a lei de responsabilidade fiscal, as privatizações e domou a inflação. Ocorre que o seu segundo mandato foi uma lástima, fazendo com que o ex-presidente completasse o seu ciclo com aprovação baixíssima, em meio a uma crise econômica que minou tudo o que ele havia realizado, além de estar estigmatizado pelo fisiologismo por ter criado a reeleição e por não ter sabido, como maior líder, defender as privatizações. Sim, porque o grande culpado não foi Serra, foi FHC. Ele que não teve força e liderança para sustentar os seus atos. O PT criou a campanha "Fora FMI, Fora FHC", unificou o discurso, fez oposição dura, suja, virulenta, enquanto os tucanos brigavam pelos despojos e pelo botim do real, cada um agarrado no seu pequeno feudo estadual. Derrota anunciada, pois. Até desejada pelo sociólogo que gostou de entrar para a história entregando o poder para um operário metalúrgico. Hoje os jornais publicam depoimentos duros de Eduardo Graeff, o ex-secretário e porta-voz de FHC. Xico Graziano, assessor executivo do IFHC. Fábio Lepique, coordenador de Juventude da campanha FHC em SP (1998) e Assessor da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Governo FHC (1999 – 2002). Simplesmente fecham a porta para que Serra seja o candidato do partido na cidade de São Paulo, porque Serra não se manifestou há alguns meses. Não há proposta para que as tais prévias sejam canceladas. Na verdade, sempre deixam a porta aberta, desde que Serra venha de joelhos, implorar a vaga, mesmo sendo o maior patrimônio eleitoral do partido, com direito a disputar qualquer cargo por aclamação. O velho FHC está, como sempre, em silêncio. Assim como ficou escondido comodamente enquanto destruíam o seu "legado". Mas os seus arautos estão na rua, fazendo a sua parte. Novamente, preferem entregar o poder para o metalúrgico que, afinal de contas, está por trás de tudo. Não vamos esquecer que um dia a arrogância de FHC já entregou a maior cidade do país para um doido chamado Jânio Quadros. Belo legado! Sobre Arnaldo Madeira, que hoje deu entrevista ao Estadão não deixando brecha alguma que não sejam as prévias, a Folha de Sao Paulo escreveu em 1998: Consta no PFL que, antes de nomear o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP) líder do governo na Câmara, o presidente Fernando Henrique Cardoso escreveu o nome de quatro políticos em um pedaço de papel. Em seguida, como sempre faz nessas horas, FHC consultou o presidente do Congresso, Antonio Carlos Magalhães. Além do nome de Madeira, estavam no papelucho os seguintes possíveis líderes, todos tucanos: Aécio Neves, José Aníbal e Pimenta da Veiga. ACM fez um "x' em três nomes, deixando inalterado o de Arnaldo Madeira ...Com Arnaldo Madeira, FHC consolida a presença tucana no posto. E homenageia Mário Covas, que tem estreitas ligações com Madeira. " Todo mundo tem que estar renovando sempre. Como dizia o Chacrinha, quem não se comunica se trumbica. Quem não renova se trumbica também " (Fernando Henrique Cardoso, novembro de 2011)



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