Dirceu Ayres
Diante do resultado, montadoras esperam medidas de incentivo ao consumo, além do pacote para a indústria que será anunciado nesta terça-feira SÃO PAULO - As vendas de veículos novos recuaram 0,8% entre janeiro e março em relação ao mesmo período do ano passado. Foi o primeiro declínio, mesmo que modesto, desde 2003 na comparação do primeiro trimestre com o mesmo período do ano anterior. Ao todo, foram licenciados 818,4 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. Com esse resultado, que interrompe oito anos seguidos de crescimento de vendas no primeiro trimestre, montadoras e revendedores esperam que o governo federal vá além de medidas de incentivo à produção industrial no anúncio que fará nesta terça-feira e adote também ações para a retomada do consumo, especialmente em relação ao crédito. Só no mês de março foram vendidos 300,6 mil veículos, 1,8% a menos que em igual mês de 2011, mas 20,4% mais que em fevereiro, mês que teve menor número de dias úteis por causa do feriado de carnaval. Já a queda em relação a março de 2011 é preocupante para o setor pois o número de dias úteis neste ano foi maior. Para o presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Flávio Meneghetti, o principal motivo da queda é a falta de crédito. "Os bancos afunilaram o crédito, principalmente para carros de entrada e os modelos usados." Segundo ele, os planos de 60 meses sem entrada, que impulsionaram as vendas nos últimos anos, "praticamente desapareceram". A elevação de 30 pontos porcentuais no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros importados também teve algum impacto nas vendas, avalia o executivo. O recuo dos bancos se deu em grande parte por causa da alta da inadimplência, que em fevereiro chegou a 5,5% dos contratos, o dobro do índice de um ano atrás. Os atrasos acima de 90 dias ultrapassaram o índice de 4,9% de 2009, no auge da crise global. "Já prevíamos um esfriamento do mercado no começo do ano, mas não contávamos com esse elevado grau de inadimplência", diz Meneghetti. Como resultado, de cada dez fichas que os lojistas enviam aos bancos, somente quatro a cinco são aprovadas. "A demanda por carros existe, o que falta é o crédito." Sensibilidade. Apesar do recuo neste início de ano, o resultado do primeiro trimestre é o segundo melhor da história, atrás apenas de 2011, quando foram vendidos 825,1 mil veículos. A Fenabrave espera que os bancos voltem a liberar mais crédito só no segundo semestre. Até lá, aposta que o governo anuncie medidas de apoio ao consumo, para evitar altos estoque nas lojas e queda na produção. Hoje, há estoques para 40 dias de vendas - bem superior à média considerada saudável pelo setor, de cerca de 30 dias. O presidente da Volkswagen do Brasil, Thomas Schmall, refez as contas e avalia que o mercado este ano pode crescer 2% a 3% em relação aos 3,6 milhões de veículos vendidos em 2011, mas somente se o governo adotar medidas de incentivo ao crédito para consumo. Do contrário, diz, o setor ficará estagnado. Meneghetti vai esperar o fim do mês para rever projeções. Por enquanto, mantém a perspectiva de alta de 5%, para cerca de 3,8 milhões de unidades. Cleide Silva, de O Estado de S. Paulo
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