terça-feira, 22 de maio de 2012

Construíndo Fernando Henrique

   

    Dirceu Ayres

No último mês a TV Câmara prestou uma homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao produzir o documentário "A Construção de Fernando Henrique" sobre seus oito anos no governo. Antes mesmo de o documentário ir ao ar surgiram polêmicas daqueles que não gostam de FHC. Dentre as críticas estavam comentários como "por que puxar o saco de um rei deposto" ou "FHC nunca fez nada e limitava-se a repetir frases feitas". Ambas as críticas feitas por blogueiros são injustas e estúpidas. FHC não foi um presidente que saiu do nada e voltou para o nada, sua carreira acadêmica foi marcada pela discordância das teorias existentes. Fernando Henrique estava mais para um teórico anarquista do que conformista. Após encerrar seu período na presidência Fernando Henrique não voltou para o nada. Logo após o término de seu mandato FHC aceitou o cargo de professor-at-large na Universidade de Brown onde relembrou seus tempos de professor; não demorou para ele ser convidado pelo secretário da ONU Kofi Annan para comandar um projeto de aproximação entre a ONU e as sociedades civis; em 2004 FHC assumiu a presidência do Clube de Madrid, grupo independente composto por 55 ex-presidentes. O Clube de Madrid estruturou uma aliança entre países para prevenir e combater o terrorismo, porém o ataque americano ao Iraque e a postura de Bush em querer criar uma rede mundial contra o terrorismo atrasaram o projeto. Em 2007 Fernando Henrique foi convidado por Nelson Mandela para integrar o grupo The Elders visando a paz no Oriente Médio e promover o direito das mulheres nos países árabes. Sua ultima empreitada foi fundar a Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia, onde vêm discutindo a questão das drogas e da descriminalização. Porém fica uma pergunta: Por que demorou tanto tempo para filmarem um documentário sobre Fernando Henrique? A resposta é simples, política. "Infelizmente, por uma decisão não sei de quem, o PT resolveu considerar que nós éramos os piores adversários. O José Dirceu disse que eu devia cuidar dos meus netos. Dei uma nota de resposta dura pelos jornais. Depois o Dirceu me ligou para pedir desculpas". Desabafa Fernando Henrique em seu último livro "A Soma e o Resto", lançado pela editora Civilização brasileira - a relação com o PT está mudando graças à presidenta Dilma, tendo como marco a aniversário de 80 anos de FH: "Quando a Dilma me mandou uma carta de felicitações, e nos termos em que a escreveu, esse gesto abriu as portas para que outros, inclusive vários ministros, se sentissem mais a vontade para dizer o que eles acham, liberando-se da ideia maligna da herança maldita". Se o documentário fosse produzido por um estado tucano ou em uma câmara federal predominantemente psdbista haveria motivo para suspeitas, não é o que acontece, a maioria dos deputados são do PT ou aliados permitindo que a herança, muito mais benigna do que maldita, de FHC venha a tona. Sobre como será lembrado Fernando Henrique responde  "O julgamento que interessa para um intelectual ou para um político é o da história. mas ai você vai estar morto. Então já não interessa tanto (...) vão se lembrar. Pôs fim a inflação, é verdade. Não prendi ninguém, não fui violento, fui democrático, valorizei as instituições e sempre procurei melhorar a vida dos mais pobres. Aumento do salário mínimo real, a estabilidade do real, as políticas sociais, isso já nem sei se vão lembrar, porque veio o Lula e o Lula fez tudo para que o que fiz fosse esquecido. Quis apagar a história para que ele parecesse como o único fazedor de coisas (...) Não sei como essa parte social vai ficar marcada, mas ela é verdadeira. Fiz o que pude". O lançamento do documentário "A Construção de Fernando Henrique" é muito mais do que uma glória pessoal ou partidária é um sinal de que alguma coisa na política está mudando e tanto Fernando Henrique como Dilma Rousseff fazem parte desta mudança. O download de "Construindo Fernando Henrique" é público e gratuito, abaixe aqui. (Os Deuses Mortos)

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