Dirceu Ayres
Em abril, foram comprados 1,5 milhão de barris. Nesta quarta-feira, a empresa confirmou a encomenda de 1 milhão de barris para a segunda quinzena de maio. São 2,5 milhões em dois meses. Isso no país em que vivem os brasileiros. Na maravilha que Lula registrou em cartório e Dilma jura enxergar, continuam os festejos pelo 5° aniversário da Proclamação da Autossuficiência em Petróleo, consumada no outono de 2006 pelo maior dos governantes desde Tomé de Souza. Na última segunda-feira de abril daquele ano glorioso, ele próprio tratou de cumprimentar-se pela façanha. “Agora somos donos do nosso nariz”, gabou-se no programa Café com o Presidente, transmitido em cadeia nacional pela Radiobrás. A Petrobras havia alcançado tal grau de eficiência, prosseguiu o palanqueiro compulsivo, que apenas garantir a gasolina dos nativos já não bastava: a produção excedente permitiria que, até o Natal, as exportações superassem as importações em US$ 3 bilhões. Não é pouca coisa. E não era tudo. Por ter pressentido antes de qualquer outro estadista que “o mundo caminha para o desenvolvimento de energias renováveis e menos poluentes”, Lula também havia transformado o Brasil num colosso da energia alternativa. “Nisso somos imbatíveis”, avisou. “Nós temos todas as condições. Nós temos terra, nós temos trabalhadores, nós temos conhecimento científico e tecnológico”. Ao som da lira do delírio, como atestam os dois áudios surreais, a discurseira comemorou o sucesso do Pro-Álcool, zombou dos céticos profissionais, aplaudiu a gastança da Petrobras com comerciais ufanistas e inaugurou com pompas e fitas outros assombros que ninguém mais viu. Neste começo de maio, o sonho de milhões de brasileiros castigados pela inépcia federal é morar no país do cartório. Por aqui, passados cinco anos, só há combustível farto e barato para abastecer os motores da inflação. A verdade pode demorar, mas sempre aparece... A lenda oficial acaba de completar cinco anos: em 21 de abril de 2006, o presidente Lula anunciou que, como nunca dantes na história deste país, o Brasil era autossuficiente em petróleo. E tinha mais: o álcool tinha dado tão certo que até mudou de nome para "etanol" e seria o combustível renovável, ecológico - nunca dantes na história do mundo um programa brasileiro tinha sido um exemplo para tantos países. E tinha mais: o petróleo do pré-sal, que jorrava com abundância sempre que era preciso afogar más notícias para o Governo, e que, como nunca dantes na história do Universo, colocaria o Brasil, se quisesse, na Opep, a organização dos riquíssimos países exportadores de petróleo. Agora, aos fatos: neste ano, devemos importar US$ 18 bilhões de petróleo (no ano passado, as importações foram de US$ 13 bilhões). E aquela abundância de petróleo que nos colocaria na Opep, se quiséssemos, somada às importações, não está sendo suficiente para atender ao mercado: o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, diz que já há um estrangulamento do setor de combustíveis, "um apagão". Ah, o álcool! Sabe aquela teimosia dos gringos, que produzem o antieconômico álcool de milho em vez de importar o etanol brasileiro de cana, produzido de maneira muito mais eficiente e barata? Pois é, estamos importando álcool americano. E nas bombas o tal etanol acaba saindo mais caro que a gasolina. Problemas passageiros, diz o Governo. Mas, na dúvida, deixe o tanque cheio. Carlos Brickmann
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