Dirceu Ayres
A difícil arte de fixar nomes, em uma simples e rápida passagem, em uma festa de aniversário, é talvez o que mais incomoda em todas as reuniões sociais — como vai? Muito prazer, satisfação etc. — Termos diferentes, estaturas, cores e vestimentas, mais do que diferentes. A fixação dos nomes em apresentações é realmente de uma proesa quase impossível. Mesmo porque, o ribombar de um som ora muito grave, ora estridente e agudo arrancado à força de sopro, dos instrumentos metálicos, vindo de um potente conjunto músico eletrônico que tocava na pequena sala, tornava quase impossível de ouvir alguém, ou se fazer ouvido. Pórem, uma coisa não era possível impedir! A analise crítica de um par de olhos experientes, pertencentes por certo, a uma pessoa que além de saber como usá-los clinicamente, usava-os também, fazendo uso, indevido talvez, de sua incômoda paranormalidade.Estava ali. Prescrutava o ambiente, o cheiro, as pessoas, a casa, as bebidas o suor de cada um, as energias, os perfumes e acima de tudo os gestos dos corpos. A linguagem dos corpos, melhor dizendo. Admirava a mulher grande e alta de mãos e dedos enormes, aquela que sabia colocar sua neurose bem em baixo de seus pés. Dominava porque sabe ser dominadora. A morena de pouca estatura, que dançava só e ria de alguma coisa e que de repente, mesmo rindo, mastigava, como se tivesse a morder os abcessos que por certo queriam devorá-la por dentro. Claro que ela sabia que não tinha sido bastante inteligente... Ruim com ele, pior sem ele. Agora em crise, acompanhada tão somente, por suas indecisões e a tremenda neurose de angústia. Há, quase ia esquecendo a Tia, sorridente, agradável sempre solícita, más, para quem entendia, era um sorriso “sem jeito”, sorriso mecânico e até certo ponto mímico, iguais aos usados em algum tipo de teatro ou festa tão social que não conseguimos ficar completamente “à vontade”, era seu próprio corpo e sem ser, seu “eu” interior que, mesmo na casa de sua própria sobrinha, não deixava de estar só. Havia uma mulher de pouca estatura, branca, cabelos curtos e pretos, blusa branca com saia de xadrez preto, tipo saia escocesa, essa sim, ria a toa; parecia que carregava um caminhão de alegria para distribuir. Na verdade a “felicidade” que tentava aparentar era mesmo para esconder uma vontade mórbida. Pensar em destruição quem tem tanto amor para dar. Estranho; pensamentos loucos em uma cabecinha tão bonita. Tivesse eu alguma oportunidade, diria: faça como o dono da casa, apesar dos sérios problemas, reais mesmo, que enfrenta em seu cotidiano, ainda tem condições de enfrentar e até tentar consolar pessoas com alguns problemas reais ou fantasiosos. “Se auto compensa” substituindo o carinho que gostaria de ter, doando carinho, aos cachorros e muito principalmente as crianças. Atencioso, sabe receber, educado quando preciso e além de bom caráter, tem com sobra, um bom coração, esse sim, sabe enganar e conviver bem com sua neurose. Isso, portanto me leva a pensar imediatamente no outro homem. Quem seria? Porque estava ali? Todo de negro, como a alma das pessoas invejosas, como o conseguia tal proesa? Uma proesa realmente extraordinária. Estava ali, porém não estava! Como entender coisa tão fantástica? Parecia que estava pelos créditos do ontem e que já haviam sido destruídos pelo poder extraordinário do HOJE que já reforçado pela forte personalidade e vivência de competidor, extinguira, e, seu pseudocrédito, agora caía no vazio de nada. Que ironia! Pareceu-me: “O médico que induzia à força de personalidade forte e lutadora, um outro tipo de “força” no “monstro” que passivo não só se anulava como parecia cansado”. Estava “morto” na festa e não sabia. Bem, seria muito cansativo falar aqui em todos os presentes naquele aniversário naquela noite fria do mês de junho bastava um olhar, e via pessoas positivas, negativas, praticas e complicadas, sorridentes, casmurras, todas deixavam, depois dos goles de aquecimento, transparecer ser “eu” interior. Havia até (vejam só) quem sabia transmitir meiguice e candura em um sorriso, talvez, por ser tão mimosa. Mas, não vamos nos esquecer da personagem principal da festa que era na verdade... A aniversariante! Personagem realmente controvertido e cheio de discrepâncias, sempre fora a conselheira das amigas, sempre foi um “bom papo”, ótima companhia em uma mesa de botequim com o copo do chopinho em frente e a conversa animada até para levantar o astral das outras. Mas... Que estranho ela também não parecia “estar lá”. Indiferente, calada, introspectiva, ausente, distante e quando tirada para dançar, parecia não sentir o prazer da dança. Estava além do além, estampava no rosto (apesar da maquilagem) uma brancura que mais se assemelhava a palidez de uma freira anêmica. É de se perguntar, onde andaria? Que fazia, por onde andava? Estaria nessa dimensão? Pareceu-me que não. Estava talvez pensando que tipo de vida levaria com aquela companhia, também não vai durar muito.Pela maneira que está agindo, não chegaria a lugar nenhum.
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