JÁ IDOSA A MÃE VEM AJUDAR |
. Dirceu Ayres
O Pneu furou, a Leila liga pro namorado pra vir trocar. Ele reluta, mas vai – troca o pneu e segue com ela até a borracharia. Em outra rua... O carro do Rogério estraga o pneu, ele leva pra consertar também. No mesmo lugar. -- Leila? – Rogério reconhece a namorada de tanto tempo atrás.--Rogério? -- Leila reconhece o ex-namorado que viu pela última vez enquanto era xingada de mais de mil nomes. --Rogério? Leila? – - O namorado da Leila não entende porcaria nenhuma. Rogério está decido a melhorar o nível. Ele e Leila, quando namoravam, viviam em pé de guerra – não que não gostassem um do outro, mas Rogério sempre perdia as discussões. Jamais conseguira enfrentar Leila com a mesma classe que ela tinha para lhe enfrentar, mas Rogério está realmente decidido a melhorar o nível agora que se encontraram outra vez, tanto tempo depois. Se Leila tivesse perdido alguma discussão, talvez estivessem juntos até hoje. Primeira estratégia de Rogério: ofender sem deixar a ofensa explícita. Leila, quanto tempo! Não vai me apresentar o “fulano”? -- Ahn? Ela não entendeu. Rogério tenta deixar um pouco mais claro. Segunda estratégia de Rogério: Ofender sorrindo -- uma ofensa se torna pior quando quem a profere mostra os dentes de uma orelha à outra. -- O “fulano” sou eu? -- pergunta o namorado de Leila. -- Esquece o “fulano”– ela responde, já querendo afastar o namorado até o fim da discussão com o ex. -- Então, Leila. O namorado novo não vem lhe dando sossego, pelo visto. -- Melhor que você, com toda a certeza. -- Provavelmente. Percebi pelas olheiras. -- Você também não parece estar dormindo muito bem. Mas sabe, é uma das conseqüências da obesidade. -- Nisso você tem sorte... -- Verdades, têm mesmo. -- ... Você pode carregar na maquiagem como fez hoje, e as olheiras ficam mais ou menos disfarçadas. -- Pelo menos não to precisando de plástica. -- Eu to? -- Só no rosto, umas três. Mas não iam adiantar muito. Talvez se você nascesse de novo... Leila era irônica, e sorria como ninguém enquanto ironizava. Rogério foi ofendido, mas ainda podia virar a mesa. Terceira estratégia de Rogério: Concordar com tudo o que o oponente fala, como se estivesse conversando com uma criança. -- Então, Rogério, seu carro estragou? Você nunca foi bom motorista, mesmo. -- Ahan. -- e sorria. -- Nem você pode negar, né? -- Pois é. -- E essas roupas, Rogério! Sua mãe continua remendando? -- E esses sapatos?! -- Você me conhece, Leila. Sempre tive mal-gosto. Até para escolher namoradas. Rogério sorri e dá meia volta. Paga ao mecânico, entra no carro e sai. Finalmente, ganhou uma discussão. Leila até parece ser mais atraente para ele, agora.
NAMORADA NA BORRACHARIA |
Nenhum comentário:
Postar um comentário