quinta-feira, 5 de maio de 2011

NINFA OU DEMÔNIO NA PAJUÇARA

                                                            DIRCEU AYRES

O sol ardente queimava mais ainda seu corpo já enegrecido pelos banhos de mar. As ondas tão brancas, quanto às nuvens que pairavam no céu azul de brigadeiro, a brisa quebrava-se com violência de encontro a seu corpinho curvilíneo. Sugando o ar, beijando a água, acreditando numa carícia envolvente e, com as mãos molhadas, espalhava a espuma branca com certa volúpia sobre seu corpo. A própria mentalização de uma ninfa, de repente, um carrão. Vermelho como o carro do profeta Isaías, seus olhos caíram na silhueta de quem havia parado para apreciar aquela magnânima beleza e, como impelida pelo desejo de demonstrar o quanto à mãe natureza tinha sido bondosa consigo, fixou o corpinho frente aos olhos experientes do velho “Guerreiro” com o vento a sacudir seus lindos cabelos negros, e num gesto cruzado, se atirou em direção ao velho Gálaxie parado. “Poderia me oferecer um cigarro, Senhor, acesso se possível?” Como negar, até o carrão se pedisse? Encostou-se no pára-lama cereja metálico, tragou, deu profundo suspiro “Obrigado”. Por alguns minutos ficou como a trocar comprimentos no olhar. As exuberantes e exíguas peças negras de seu mini vestuário marcavam com precisão absoluta e milimétricas as curvas que faziam os contornos de seu corpinho bronzeado e como se isto não bastasse, movimentava-se em ritmos estudados e cadenciados, maltratando a mente cansada do piloto “Guerreiro”. A ninfa com cerca de 16 ou 18 anos, sorriu com ar ingênuo e soltou um “lindo” baixinho, mas, bem pronunciado, e depois como num sopro: lindo, lindo, lindo por três vezes e o velho “Guerreiro” nada ouvia, estava como petrificado. Levantou-se saiu do velho Ford companheiro de tantas aventuras, e desventuras, acostumado a ver e participar de tantas peripécias olha-o e este continuava indiferente a tudo e a todos. Olhou o sol, meio dia, puxa vida, calor externo violento, interno ainda mais, dose para elefante quem seria aquela frágil criatura que consciente ou inconscientemente sabia ser tão cruel? Pensava consigo próprio e como para se consolar, disse de si para si “Não! Não pode ser normal, deve ser neurótica de personalidade psicótica com algum trauma de infância ou algum sentimento profundo e doentio”. E lá se foi a Ninfa, rindo fazendo caretas própria de sua idade. Mas, seria mesmo uma Ninfa, ou o Demônio provocando para matar mais um? Que arrisco..., O carrão correu, passou junto, breve aceno.Quem sabe? Talvez um dia (se não for o Demônio), o velho Guerreiro hoje no estaleiro, possa ir a forra.

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