quinta-feira, 5 de maio de 2011

A TRAGÉDIA COM O PEQUENO JOÃO.

                Dirceu Ayres
Queria falar sobre João Hélio Fernandes. João foi morto de forma estupidamente selvagem por marginais que para tomar o carro de sua mãe o arrastaram, seu corpinho estava para fora do carro, enquanto os marginais dirigiam ferozmente pelas ruas da zona norte do Rio de Janeiro. João tinha seis anos. Mas a pergunta que não quer calar é: de quem é a culpa? O que fazem os Políticos? Os legisladores?.
A culpa direta seria dos selvagens que roubaram o carro e, mesmo sabendo que havia uma criança com o corpo pendurado para fora, continuaram acelerando. Esses devem ser punidos, não há o que discutir aqui. Mas e a outra culpa? A culpa dos verdadeiros responsáveis que faz com que selvagens como esses estejam se multiplicando por aí? Essa, para mim, fica em Brasília e nas mãos de todo o empresário que se corrompe.
Somos, em âmbito internacional, uma economia forte. O dinheiro, bem ou mal, entra. Mas não chega às camadas mais baixas porque pára na corrupção de nossos políticos e no empresariado. É ali que ele é distribuído, na forma de mensalões, sanguessugas e comissões ilícitas, desvios outros. Fica por ali, para que a classe que nos domina tenha vários carros, aviões particulares, Grande fazendas inoperantes, dinheiro depositado em bancos suíços para eventuais emergências. Quem chega ao poder para ajudar às classes mais baixas? Pouquíssimos. A maioria é que chega com um plano de enriquecimento, a fim de garantir o seu e o de sua família pelos próximos anos. E, por conta dessa fome de poder e de dinheiro, o dinheiro que nunca chega à base da pirâmide. Se não chega, não há como garantir o básico: saúde, educação, segurança. Sem isso, o homem vira bicho, vira um animal, capaz de despedaçar o corpo de uma criança pelas ruas da cidade. Tudo fica ainda mais feio se esse cidadão, que nunca teve oportunidade na vida, que sempre foi um vazio de moral, sai às ruas e vê, nos sinais, nossos homens do poder e status dentro de carros blindados, avançando sinais vermelhos com medo de serem, cedo ou tarde, vítimas de um marginal, um menino que não teve a menor chance de ser alguém na vida, e que acabou se transformando em um monstro. Agora, preparem-se: um grande show de hipocrisia varrerá nosso país. Esses mesmos políticos que têm as mãos sujas de sangue darão entrevistas mostrando-se desconsolados com a violência, e prometendo, pelo povo, mudar a lei, ou fazer de tudo para que os verdadeiros culpados sejam punidos. Dirão isso e entrarão em seus carros blindados para ir jantar em algum restaurante de luxo. Não tenho nada contra ser milionário, desde que, o meu redor, não haja gente que não tem o que comer. Seremos nós, então, os culpados? Nós que reelegemos essa gente? Nós que não arregaçamos as mangas para entrar na vida pública e tentar mudar o cenário? Não há como tirar a culpa que existe em cada um de nós. Simplesmente, não há. E enquanto continuarmos passivos, revoltados apenas da porta de casa para dentro,ou da boca prá fora, como dizia minha mãe, enquanto nossa classe dominante continuar desviando verba pública, verba do povo, verba que poderia ser usada em saneamento, em escolas, em segurança, para o enriquecimento próprio, nossos pequenos e indefesos Joãos continuarão a pagar as desgraçadas contas que virão. E que essa seja, talvez, de tão horrenda, a verdadeira tragédia com o pequeno João.

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